Corpos, cores e amores

Quando você está apaixonado, é como se estivesse repousando numa ilha deserta, mas com uma euforia carnavalesca, ou simplesmente é ter, consigo mesmo, os seus melhores dias. O que uma paixão consegue fazer nada mais conseguiria.

Há aqueles que se entregam facilmente as paixões, sem hesitar, sem temer. Outros que ao sentirem o cheiro de romance no ar, ouvem um alarme, o qual avisa que as portas do coração devem se fechar, impedindo a entrada daquele que tenta roubá-lo. Porém, a mandinga dos apaixonados é forte. E começam as oscilações dos sentidos.

Não existe mais espaço para um mundo vago. Agora são distrações, sufocamentos, mãos suando frio, corpo quente, boca seca, a luz dos olhos se evidenciam. Está apaixonado é ter um “vício” do bem. Necessita-se de tato, de papo até altas horas, de mãos dadas, coração acelerado. Ver, tocar e consumir, sua paixão. E quando você cai em si, vê que já não dar para se salvar. Algumas paixões vão embora com o fim do outono. Outras chegam com verão, e nem por isso se acaba... Apenas transforma-se. O amor é a paixão amadurecida, cuidadosamente lapidada.

Doravante, o amor se fixa sem aviso prévio... De maneira que você põe-se disposto a tudo para estar ao lado do ser amado, parecendo algo estranho, cômico, sem sentido. Quem saberia dizer ao certo? O amor alimenta-se de renúncias, lealdade, companheirismo, cumplicidade, zelo, ternura. E só é duradouro quando há liberdade. Suporta os atritos, porque precisa sentir a presença amiga, amante e marcante do outro.

Ao encontrar o amor, se verdadeiro e recíproco, você percebe que ele é a solução para todos os problemas.

Você pensa que nunca vai amar alguém intensamente... E de repente chega alguém que lhe passa uma energia tão boa. Somada a sua é plenitude. Você passou a necessitar da alma dela. Pronto, é amor, meu caro. A advertência dos profundos conhecedores dos mistérios dos amantes e das dores é: “aproveite! Amor de verdade, não se encontra fácil, por aí...” Quando ele, o amor, já se instalou, irremediavelmente, o coração pega fogo, arde, dói, e você fica feito bobo, pedindo mais. É como se o corpo de quem você ama ao tocar o seu, fizesse converter carinhos em combustão. Tudo entra em chamas! E o fogo é o que não se ver, poderia até ver as cinzas (mas o fogo não). Acontece que a chama não apaga, como você poderá ver as cinzas?

E, então, entende que se, muitas vezes, você e seu amor fitam-se em silêncio, é para deixar fluir as vozes dos seus corações. Porque ambos não dão mais conta desses turbilhões de sentimentos. E as palavras já nem ousam sair das suas bocas.

Todavia, todo grande amor só é bem grande se passar por tempestades. E não mudaríamos de história dessa vez. O caso de amor entre o sol e a lua é a prova que não há amor certo ou amor errado. Amar é desfigurar o impossível. O que seria da lua se não fosse a luz do sol? O sol, por sua vez, seria capaz de embalar noites, esbanjando fases, brilhando timidamente no escuro e encantando os apaixonados com a mesma maestria da lua? Sol e lua habitam em órbitas diferentes. Cada eclipse é a renovação de uma aliança. E as estrelas são testemunhas.

Portanto, fico com a grandeza do lirismo dos escritores que aspiram a Shakespeare: “Amar, porque não há nada melhor para saúde do que um amor correspondido”, dizia ele. E quem não tem um amor é quem habita um mundo incompleto, pouco convidativo. É quem nunca se sentiu forte e frágil, ao mesmo tempo, na presença de um certo alguém. É quem existe sem viver e sem fazer a diferença. É quem sente sem se entregar. É quem tem muita teoria romântica, mas a prática é terreno desconhecido. É quem nunca ousou misturar as cores do arco-íris, juntá-las a corpos entrelaçados e construir, com isso, um novo e colorido mundo.

E para aqueles que pensam que o amor é algo idealizador, ou pelos menos que requer encontrar uma pessoa perfeita, aqui vai um conselho: na verdade você não se apaixona por outra pessoa, mas você se apaixona por um pouco de você que você encontra numa outra pessoa. Com outros defeitos, ou outras virtudes, porém a essência é a mesma. Tudo isso se uni e completa-se nos mistérios dos grandes encontros de corações. Por isso, senhores, não temam perder-se no coração de alguém que lhes desperte algo mágico. Pois o amor é a maior das conquistas! E encontrá-lo, certamente, implica perder-se em outros humanos corações. Busquem e desfrutem do amor a seu bel-prazer. Misturem as cores, misturem os corpos e amem!

Hoje, eu posso dizer que o amor não é perigoso. E um amor pode ser muito mais exuberante e divino do que mil paixões. E, afinal, só as criaturas mais ridículas nunca se rederam ao amor.

Luana Zenaide
Enviado por Luana Zenaide em 24/03/2024
Código do texto: T8026745
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