Sentimentos dos animais, humanos?! E os dos humanos, animalescos?!
Têm os animais sentimentos? Têm os animais inteligência? Que ninguém, sendo presunçoso, considerando-se o sabe-tudo, apresse-se a responder às duas perguntas. Que se pondere, antes de se dignar a pensar o que quer que seja, e responda: O que é sentimento? O que é inteligência? Depois de responder a tais perguntas, e sem que acerca delas abandone atrás de si quaisquer incertezas, diga quem se dedicou a respondê-las quais criaturas foram com sentimentos e inteligência agraciadas. Erro se concluir que ninguém dará às interrogações respostas definitvas?! Não sou, digo, um estudioso da Filosofia, mas suspeito que os grandes filósofos, desde há dois mil e quinhentos anos (considerando aqueles de cuja existência temos conhecimento) a debruçarem-se sobre tais questões, até hoje batem cabeça, não se entendem, esfalfam-se a se emularem, todos a se vangloriarem cada qual de sua sabedoria (inabarcável, entendem, pelo homem comum) - e disseminam uns dos outros maledicências.
Então, deixemos de lado os sábios e observemos os animais, e das observações concluamos que o que elas nos revelam é a realidade, mesmo, e principalmente, se o que nos revelam nos desagrada. Que os animais têm memória, é inegável; que têm sentimentos, também; que pensam, é provável.
- Mas... Mas... Mas... - comenta o leitor. - Senhor escritor, vós não definistes "sentimento" e "inteligência". Então, por que dissestes que têm os animas sentimentos e inteligência, se, tu deixas a entender, não sabeis o que "sentimento" e "inteligência" são?
- Quereis de mim franqueza, leitor? E sem frescura?! Não perderei meu tempo a elucubrar "sentimento" e "inteligência". Os sábios já se perderam num emaranhado inextrincável de definições, e não chegaram a um consenso a respeito nem de uma coisa, nem da outra. Então, ficamos entendidos: "sentimento" e "inteligência" são o que entendemos que são. Assim, entendeis que animais têm sentimentos e inteligência. Ora, vós já vistes animais, não?! Sabeis como eles se comportam, não?! Então, atenteis para o que vai diante de vossos olhos, e ignoreis os sábios, os novos e os antigos.
Penso eu, e se penso bem não sei, que se queremos pensar as coisas do nosso mundo, temos, antes de tudo, de observar o que está ao nosso redor, e se o que está ao nosso redor é um animal, que tenhamos o bom-senso de atentamente observar-lhe o comportamento e concluir que o que está-nos a nos mostrar é o que ele é, sem nos preocuparmos em consultar Fulano e Beltrano, que escreveram livros a respeito. Os livros, é claro, têm o valor deles, mas não sejamos tolos a ponto de acreditar que todo o teor deles está correto e que os homens que os escreveram disseram a verdade, e nada mais do que a verdade.
Conheço um cãozinho que sempre faz festa ao ver esta e aquela pessoa e se esconde ao ver aquel'outra. Por que ele assume tais posturas? Por que ele abana a cauda para certos humanos, e encolhe-se assim que chega ao seu focinho o fedor de outros? E uma história trágica: Meu avô tinha um cão, seu, de estimação, que muito bem lhe queria; meu avô faleceu, e o cão guardou-lhe luto; e não se alimentava; e entristecido - era-lhe a tristeza visível em seus olhos - definhou até morrer.
Que deixemos as idéias preconcebidas de lado, e observemos o mundo, e a partir da nossa observação aprendamos a conhecê-lo. Para tanto tenhamos a coragem de desconsiderar filosofias quaisquer, e ideologias, e políticas, e psicologias, e ciências, e religiões, se o que elas nos ensinam não traduzem as coisas do mundo, mas apenas reflete o que vai na cabeça, não raro desmiolada, de quem as pensa.
E para encerrar este papo-furado, ao leitor ofereço um motivo para entrar em parafuso: São humanos todos os sentimentos aos humanos exclusivamente associados? Ou são animalescos?
Não são os pensamentos aqui dados a público acerca do tema tratado os únicos que tenho a apresentar a respeito. Mas paro por aqui. Amanhã, ou em outro dia, se me der na telha a vontade de escrever mais a respeito, tornarei ao assunto, se o mundo não acabar hoje.