Aula não tem que ser divertida
Quem é professor sabe que um dos maiores aborrecimentos da vida do docente é fazer os alunos prestarem atenção porque, tirando uns poucos que estão interessados, a maioria fica distraída no celular conferindo o Whatsapp ou fazendo zoeira. E, no final, a culpa cai sobre o professor. Os alunos reclamam que a aula dele é chata e não chama a atenção porque não é divertida. Diz-se que ele não sabe transmitir o conteúdo de forma interessante para chamar a atenção da garotada que hoje em dia só quer saber de ficar no celular verificando o Instagram ou o TikTok como se fosse passar a vida inteira assim.
Acontece que aula não tem que ser divertida. Professor não é artista de circo e sua função é saber transmitir a matéria e falar numa linguagem acessível - o que não significa falar como um adolescente - e ele não tem que ficar o tempo todo sendo engraçado agindo como se tivesse a mesma idade dos alunos. Dá para imaginar um professor de física contando piadas em vez de ensinar fórmulas e cálculos? Quem quiser rir que vá assistir a Chaves ou vá um circo, onde há palhaços. E é só o professor que tem obrigação? Por acaso os pais desses alunos não estão sabendo ensinar aos filhos que eles devem respeitar o professor e ter senso de responsabilidade? Os pais deveriam ensinar aos filhos que a vida não é apenas diversão e que um dia eles estarão por sua própria conta. Será que esses jovens não sabem que o trabalho de professor não é divertido? Professor tem que planejar aula e levar provas e exercícios para corrigir em casa quando termina seu expediente. Muitos, por sinal, ensinam em mais de uma escola, afinal professor não ganha muito e tem suas contas para pagar.
Essa geração jovem de hoje está muito mimada. É a tal geração "leite com pera"*, que tem tudo nas mãos e acha que tudo tem que ser como ela gosta. E os piores são os filhinhos de papai. Se um professor for reclamar com um desses alunos para desligar o celular, o mais provável é que os pais do coitadinho no dia seguinte irão à escola dizer que o filho está traumatizado porque levou uma bronca. Chega dá pena do pobrezinho, não é? A situação está grave. Se antes um aluno tinha medo de levar o boletim cheio de notas baixas para os pais olharem porque antes os pais brigavam e diziam que ele tinha que estudar, hoje os pais vão à escola para intimidar os professores por terem dado nota baixa ao filho que não quer estudar porque acha chato estudar. Isso quando os pais não chegam ao ponto de agredir ou ameaçar os professores.
Imaginem um mimadinho desses, que cresce todo cheio de vontades, achando que todos têm que ser adaptar a eles. No futuro, terão problemas quando quiserem entrar no mercado de trabalho. Os jovens espertos que hoje não prestam atenção à aula de português porque acham um "saco" aprender ortografia e concordância verbal e nominal no futuro irão elaborar currículos cheios de erros grosseiros de gramática. Que empregador vai querer contratar alguém que não sabe fazer o próprio currículo? Será que esses "leite com pera" superprotegidos aguentarão acordar cedo para ir ao trabalho, serão capazes de cumprir metas ou irão suportar reclamações do empregador? Ou irão reclamar com mamãe e papai que o empregador gritou e reclamou do péssimo trabalho deles?
Dá para confiar num desses jovens caprichosos querendo fazer Medicina? Pensemos nele indo a uma aula prática para dissecar um cadáver. Ele não vai poder exigir do professor que torne a aula divertida, não é? Vida de médica não é divertida. Aliás, a vida é cheia de coisas que não são divertidas. Não é divertido pagar impostos, acordar de madrugada para trocar fraldas e dar de mamar, ter que educar filhos, lavar banheiro e ter que levantar cedo para ir trabalhar. Talvez um filhinho de papai que seja filho de médico, advogado ou empresário ache que já tem o futuro garantido porque é só ir trabalhar com o pai no hospital ou escritório ou que um dia assumirá os negócios da família. A questão é que, de toda forma, ele não será um bom profissional. Quantos filhos de homens de negócios não põem as empresas dos pais a perder porque são totalmente incompetentes?
Os pais desses jovens têm que entender que educar é preparar para viver. Entretanto, parece que muitos pais - e não apenas os ricos - devem pensar que educar é apenas dar tudo aos filhos, colocar numa escola e mimar em demasia, criando assim tiranos insuportáveis que ainda por cima dão a impressão de ser feitos de vidro porque não suportam ser contrariados. Uma pessoa não saberá andar com as próprias pernas se os pais sempre a mimam e superprotegem. Sabe-se de casos que mães que não querem que os filhos façam Educação Física para que eles não se machuquem. E isso deve estar se tornando uma pandemia porque há um caso real nos Estados Unidos de alunos de Direito reclamando do fato de professores usarem os nomes dos órgãos sexuais ao falarem sobre estupro e não gostarem de termos como "violar a lei". Dá para acreditar nisso? Como alguém se tornará advogado assim?
Por sinal, um professor, comentando sobre esses jovens superprotegidos, disse: "estamos formando uma geração de imprestáveis". Qual será o futuro com pessoas assim? E muitos são os professores que estão lavando as mãos para não se estressar com esses alunos totalmente desinteressados que não têm a menor consciência de que o mundo não tem obrigação de ser curvar às vontades deles.