Extraordiná-Rio
Pessoas andam de chinelo. O tempo todo, em todo lugar.
Eu gostaria de aderir à prática sem olhares de julgamento em Curitiba.
Muitas ruas se parecem com cenários de novelas do Manoel Carlos. Helenas e Camilas saem a todo tempo pelas portas e andam pelas calçadas.
Muitas mulheres têm cabelos longos.
Andam de shorts e cabelo desgrenhado.
São charmosas, parecem personagens de filmes cult. Eu só ando assim nas férias. Será que elas estão de férias?
Pelas ruas, pessoas escondem seus celulares.
Para que possam expor suas vidas quando estiverem trancadas dentro de casa, em segurança.
Locais advertem turistas que carregam cordões no pescoço e exibem celulares na orla de Copacabana.
Turistas escondem cordões, guardam celulares e voltam pro hotel.
Motoristas dirigem rápido, muito rápido.
Você quer observar a cidade, mas não consegue.
Eles moram aqui, não têm nada pra observar.
O Corcovado é comum, o Cristo é comum, a praia é sempre a mesma, o Rio é sempre o mesmo. Não pra mim.
Você anda esperando encontrar um artista, mas eles não aparecem.
Devem estar fazendo coisa melhor (pra eles) do que andar pela Zona Sul.
Homens carregam cadeiras nas costas, sacos de grãos na cabeça e outros pesos sobre os ombros ou na consciência.
As peles são escuras, queimadas de sol.
Bronzeadas, bonitas, tristes, sofridas.
A cidade é linda, o mar é lindo, a paisagem é tropical. Cenário da década de 60.
A cidade é feia, é suja, é pixada, mal tratada, castigada, esquecida. Cenário de todo dia.
O Rio é duplo, é plural.
O Rio é surpreendente e, mesmo que improvavelmente, eu sigo querendo que a surpresa seja sempre a melhor e não a real.