Da insensibilidade
Na guerra que componho sobre a pessoa que não sou
Ninguém ganha, nem perde, há somente discussões
Olhares para o céu, das trincheiras de dentro das casas
E uma solidão latente, que expurga a água do olhar.
Não me encontro dentro de mim, e fora parece tão longe...
Mesmo ao toque das mãos, as janelas estão tão distantes
Que eu, que nunca entendi a teoria das coisas que não se tocam
Hoje concordo e assino embaixo, com a caneta que flutua em minhas mãos.
Nem o verde das plantas, nem o azul desse céu
Nem o afastar das nuvens ou o clarão da lua
São capazes de atravessar o campo de breu do meu peito
Suas belezas não me perfuram, meus sentidos não se afetam
Olhar para as copas das árvores é menos que um sonho lúcido.
Não sei em que ponto da vida se deu tal fatalidade
Quando menina olhava com a claridade dos sensíveis
Avistava e pensava, pensava e sentia, sentia e falava
Hoje calo pelos olhos, pela boca e ouvidos
E o pouco que me resta passa... vira tudo, vira nada.