Tesão pela vida...
Não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio porque as águas renovam-se a cada instante.”. Assim fala o filósofo Heráclito. Claro, se refere às questões da natureza e suas devidas transformações. Porém, e se levarmos para a nossa existência humana e por tudo o que vivenciamos nela diariamente?
Sabe, querido leitor, às vezes nos remoemos sobre ciclos encerrados ou até mesmo situações maravilhosas que, felizmente, cessaram ou até mesmo pessoas que já não se encontram mais ao nosso lado. Todos passamos por estes conflitos existenciais e paradoxais.
Mas nada é mais o mesmo, a cada mão que tocamos nesta estação de metrô que invade nossos olhos, os dedos que agarramos, já não somos mais os mesmos, somos impulsionados a transformar-se a cada começo e fim, a cada sonho, a cada fracasso, a cada tropeço, a cada conquista, em cada esquina que passamos já não somos mais o mesmo de ontem.
Bem, a vida sempre espera algo de nós, uma postura, uma expectativa.
Não é estranho, leitor? Estarmos diariamente na frente da mudança, do devir, da metamorfose e do desconhecido? Não é estranho sabermos que somos constantemente forçados a aderir uma nova pele?
Ademais, costumo pensar que se as águas do rio fossem as mesmas, a cada banho, perderíamos o tesão de viver. Perderíamos o espanto, a curiosidade, o frio na barriga.
Tudo é único, portanto, tem seu valor, isso decorre justamente porque aconteceu uma única vez, se chegasse ao ponto de excesso perderia o tesão, o espanto. Ao contrário, sendo a ausência deste acontecimento único, nem teríamos o que pensar dele, pois não ocorreu.
Nem há motivos para querermos retornar ao passado que tivemos, no caso sendo ele bom, pois você não é mais o mesmo daquela época, as águas mudaram, talvez sejam elas mais límpidas agora, com aromas de rosas floridas. Estaria tudo em desordem.
A conclusão é que, sejamos gratos pelo o que vivemos (que consideramos bom), só foi encantador porque foi a primeira vez, estávamos completamente espantados pelo desconhecido que, neste momento, estava sendo vivido, ou seja, o desconhecido sendo vivido mesmo não tendo a consciência naquele momento.