O cativeiro da liberdade

Às vezes me sinto livre, como se nada e ninguém fossem capazes de me manter em uma cela, dentro de algo, condenada a repetir incansavelmente os mesmos dias.

Às vezes me sinto presa, dentro de mim. Disponível para as torturas diárias de viver o mesmo dia, infinitamente.

Quando me sinto livre, olho para a rotina e agradeço, de coração farto, com brilho nos olhos. Eu tenho privilégios. Eu tenho o agora e cada detalhe do dia é um presente que repousa em uma canção feita para mim.

Mas quando me sinto presa, com os mesmos olhos vejo paredes, paredes brancas, redes nas janelas, paisagens distantes, o mesmo coador de café, o mesmo café, o mesmo dia. Cada objeto familiar se torna uma lembrança dolorosa da monotonia que me consome. As paredes em volta não têm porta, não têm caminho, não sei para onde ir.

Nos dias de liberdade, eu não saio. Eu olho, observo, sorrio, reflito e sinto, sinto muito. Vejo minha alma e minha mente de mãos dadas, imersas em possibilidades, sorrindo para o que está por vir, pois nesses dias, sempre tem algo que está por vir. E não me preocupo, não espero, não me demoro. Deixo meus olhos vagarem sobre as silhuetas do mundo, ainda que não os conheça por completo, os contemplo, assim como o céu que não compreendo mas me deleito em sua misteriosa beleza.

Sinto que a liberdade não é um abrir a caixa e encontrar algo, uma chave, um presente ou uma saída. Mas ver a caixa, saber que ela pode ter algo ou não, e isso não importa, eu posso escolher abrir, ou mantê-la ali, sempre intacta. E nos dias mais floridos e musicais da liberdade, não restam dúvidas, arrependimentos, segredos, amargor, apenas o belo e potente respirar de uma vida inteira pela frente.

Quero, portanto, me lembrar disso nos dias em que o olhar escurece, e perco o ar. Dias em que me sinto prisioneira dentro de mim, quero lembrar que vai passar, e que distância e tempo são apenas marcadores, não são determinantes. E assim caminhar com a certeza de que a liberdade é minha companheira constante, sempre à espera de ser redescoberta dentro de mim.