A obrigação de ter uma opinião formada sobre tudo.
Tenho eu de ter uma opinião acerca do que não sei uma vírgula, e do que não sei do que se trata, e do que sei o que é, e há décadas, e do que vim a saber ontem, ou anteontem, ou transandontem? Não. Não tenho. Mas cabeçudo que sou dou-me ao direito de falar o que me dá na telha acerca de assuntos dos quais neca de pitibiriba entendo. Ora, se sou humano e Deus me deu o dom da fala e da escrita!
Esforço-me para me conter em minha natural propensão para tratar do que nada sei, nem sempre com sucesso. E sempre que me derrotam as minhas reprováveis veleidades, permitindo-me expor minhas idéias, procuro conter em meu íntimo a vontade de escrever pelos cotovelos os pensamentos que me brotam pelos cabelos e dar voz escrita apenas ao que me parece prudente expôr. Não sou dos que se acreditam de posse de idéias formadas sobre tudo, sobretudo as deformadas, e as transformadas de outras, estas piores do que as minhas, ou melhores.
De uma coisa eu sei, e sei porque pensei detidamente a respeito durante horas e horas de elucubração intelectual (mentira: tal pensamento se me aflorou à cachimônia há pouco, assim, do nada, como nascesse do ar): todas as pessoas, inclusive as pela natureza mais bem aquinhoadas com o dom da filosofia (presume-se que estas mais do que todas as outras), pensam muita bobagem, falam muita bobagem, escrevem (as alfabetizadas, claro - atenção: alfabetizadas, e não escolarizadas) muita bobagem, sem se vexarem, e muitas o fazem com ar professoral, com ar venerável, e têm muitas dentre elas cada qual seu nome incluído no panteão dos célebres heróis do pensamento humano. Se é assim, dou-me a liberdade de falar e escrever a cota de bobagem que me é de direito natural, universal.