Sigo compreendendo Clarice
O que suprime essa falta? Até agora, nada. E sigo compreendendo Clarice sem saber explica-la. Mas o que eu quero também não tem nome. E no meu caso, não é algo capaz de traduzir a liberdade, algo que vá além dela. É algo muito frágil, perdido entre o útero e o peito que jorrava leite. Algo desperdiçado. Algo que não foi compartilhado. Restrito, e guardado a sete chaves como meu segredo mais obscuro e sincero.
Lua que flutua no ar e me promete um amor inatingível. Te amo mil anos antes do seu nascimento.
Assim como perpetua em mim uma morte silenciosa, de alguém que não conheço. O feto abortado que seria eu. Algumas vezes me pego o ninando e o colocando para dormir. Nascer é um susto.
E agora estou no mundo e te desejo.
Um desejo não correspondido. Uma falta visceral. Há algo seu que me remexe as entranhas. Da mesma forma que me remexi naquela camada de tecido muscular que se expandia. Dos dois modos há uma pulsão de vida.
Estou sempre em busca de algo. Até agora. Onde quero enfim experimentar algo novo e orgânico. Algo que seja intrinsecamente meu.