Extrema direita e teoria do domínio
A análise da influência política de figuras e ideologias específicas, requer uma compreensão das complexidades subjacentes, que moldam as crenças e comportamentos dos indivíduos.
No cerne dessa discussão, encontra-se a ideologia de extrema direita, apontada como uma força motriz, que valoriza a elite, em detrimento da dignidade e dos direitos da maior parte da população.
Intrigantemente, essa ideologia tem encontrado ressonância em segmentos da população que, apesar de não pertencerem a essa elite, apoiam e reverberam seus princípios e objetivos.
Essa adesão pode ser interpretada como uma manifestação do “espírito de vassalo”, uma tendência ancestral, de se alinhar e servir a uma estrutura de poder dominante, mesmo quando isso, contraria os próprios interesses ou valores fundamentais.
O papel das construções teológicas, nessa dinâmica, é particularmente notável. Muitas vezes, as doutrinas religiosas são cooptadas ou reinterpretadas, para proporcionar uma base moral, que legitime certas ideologias ou práticas políticas.
Um exemplo claro dessa cooptação, é a transição do enfoque do cristianismo — centrado nos ensinamentos de amor, compaixão e desapego material personificados por Cristo — para uma ênfase na figura de Davi, um rei bíblico conhecido por seus feitos como guerreiro, além de desrespeitos aos cânones religiosos cristãos como, adultério e assassinato.(Davi, mandou o marido de Bathseba, (com quem adulterou), para a frente de batalha, para morrer. Segundo a bíblia, Davi era um homem, segundo "os olhos de deus".
Esse deslocamento teológico, não é meramente acadêmico ou doutrinário; ele tem implicações práticas profundas.
Ao invocar a figura de Davi, líderes religiosos como Silas Malafaia, Edir Macedo e R.R. Soares e outros, não apenas reinterpretam o cristianismo, de forma a priorizar o poder e a conquista, mas também moldam a mentalidade de seus seguidores, para aceitar e apoiar um sistema, que favorece a acumulação de riqueza e poder, frequentemente, às custas das camadas mais pobres da população.
Essa transição teológica, justifica e encoraja uma forma de cristianismo, que é radicalmente diferente da sua concepção original, baseada no amor e na igualdade.
Essa reinterpretação doutrinária, serve a múltiplos propósitos. Em primeiro lugar, ela fornece uma justificativa divina, para a desigualdade e exploração, o que pode acalmar, possíveis sentimentos de culpa entre os ricos e poderosos.
Além disso, ao promover uma figura bíblica complexa e falível como modelo, esses líderes religiosos abrem espaço, para justificar seus próprios comportamentos e práticas questionáveis. Ao fazer isso, não apenas consolidam seu próprio poder e riqueza, como também promovem uma visão de mundo, que favorece a estratificação social e o domínio das elites.
Portanto, o que testemunhamos é um fenômeno multifacetado, onde ideologias políticas de extrema direita, se entrelaçam, com interpretações teológicas específicas, para criar um ambiente, onde a submissão aos poderosos é vista como virtuosa, ou até divinamente ordenada.
Essa dinâmica explica, em parte, por que indivíduos que não se beneficiam desse sistema, ainda podem defender fervorosamente os líderes e as políticas, que perpetuam sua própria marginalização. O desafio, então, é desvendar essas camadas de influência e questionar as bases, sobre as quais repousam tais ideologias e práticas, a fim de promover uma sociedade mais justa e igualitária.
Barthes.