Conversa Retórica
Eu não sei uma forma apropriada de iniciar esse pequeno texto; mas, tempos atrás, eu saberia... ou eu acharia que saberia. Eu achava que sabia de muitas coisas. Eu não sei é de mais nada. Certezas absolutas voaram pela janela, e nem foi deste quinto andar de apartamento de onde eu escrevo; elas voaram antes e me deixaram abobalhada e só, abobalhada justamente por descobrir que eu estaria só, e que a companhia dessas verdades absolutas não estariam mais comigo, tendo eu que andar nesses porquês e nessas lacunas existenciais por conta própria. Ora, estranho mesmo é a gente achar que umas explicações meia pataca, sem pé nem cabeça e sem eira nem beira vão dar conta do todo... mas enfim, eu também não tenho certeza disso, só deu vontade de escrever.
Hoje de noite olhei pela janela do quinto andar como quem quisesse escapar de algo ao observar a vida acontecendo lá embaixo... pessoas indo e vindo de lugares, uma mulher segurando uma criança, janelas quietas, luzes, carros. Algum tipo de imensidão em mim procurava alimento em alguma imensidão do lado de fora, do lado de fora de todo o caos recente, como quem implora à vida um afago em meio às lágrimas, ou um colo para repousar a cabeça necessitada de um cafuné. Eu refleti sobre o futuro com certo receio. Como será o futuro? 'Já tenho 23 anos'. 'O tempo tá andando depressa'. 'Andando? Qual seria o jeito mais certeiro para falar isso?'... 'Andando'... 'Voando'... 'Passando rápido'... Me imaginei perguntando para alguém legal: 'com você também foi assim, você sentiu que depois dos seus 18 anos o tempo voou, ou será que ultimamente o tempo tá passando rápido pra todo mundo?'... Depois me perguntei como é que o tempo pode passar mais rápido ou mais devagar, já que o tempo é o mesmo... O tempo é o mesmo?
Algum tempo depois de sentir receio do futuro, eu me peguei sentindo alguma espécie de ressentimento com o tempo por ele passar tão rápido e deixar o belo e feliz passado - repleto de bons momentos com amigos, família e etc - para trás.
E, obviamente, relembrar do passado também implica relembrar dele.
Senti tristeza. Relembrar tudo isso - momentos, pessoas - é lindo mas também é doloroso - justamente pelo fato de estar apenas na lembrança - e eu, aparentemente, gosto de ser torturada nesse sentido. Eu sou meu próprio açoite.
Eu queria desabafar mais, mas não tá saindo. Parece que tudo o que eu fosse dizer agora soaria incompleto, irrelevante, apesar de nada ser irrelevante. Parece até castigo a gente ter um monte pra dizer e não conseguir dizer. Fica preso na ponta dos dedos ao tentar escrever, num movimento de 'escrever e apagar'. Temos então de conversar por telepatia com essa coisa quase inominável que pode se chamar vida, universo, consciência, noite. Talvez sejam entidades distintas, talvez sejam várias facetas da mesma entidade. Eu não sei. Só sei que gosto de conversar com ela, seja(m) lá quem for(em).
(Gênnifer Gonçalves)
(29/06/2018)