Vida desbotada

Espatifo cada fragmento de minha escassa serenidade, fazendo de mim aquilo que um dia jurei jamais me tornar: um ser antes sanguíneo, agora sem vida. É uma estranha sensação de peregrinar por uma jornada que não lhe pertence. Há uma impressão de punição e tudo o que me cerca parece desbotar, como folhas no ápice do outono. Algumas horas de lamento, os olhos ardem, uma quentura na cabeça, mas uma lágrima sequer decide escapar, como se seco estivesse o que antes jorrava sem fim. Sinto-me sem rumo, sem horizonte, sem amigos verdadeiros, sem a paz que almejei, sem as aventuras que planejei, sem a disposição que antes transbordava. Não há mais cartas na manga, nem um Às de espadas a ser lançado sobre a mesa. O "deixa os dados rolarem" findou e os números não surpreendem. Me sinto no final, como se já não tivessem folhas o suficiente para reescrever, para recomeçar.

Bruno da Silva
Enviado por Bruno da Silva em 20/02/2024
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