Reflexões sobre o amor
A beleza das coisas que se dão sem serem pedidas, estão nesse pequeno intervalo entre enxergar a necessidade, ainda que essa não se pronuncie nas palavras.
Bonito é o amor que sabe ver.
Enxergar as pessoas é o jeito mais bonito de amar, quando tudo ao redor tenta desesperadamente convencer a todos que somos exatamente iguais, destinados a cumprir um papel na grande máquina do mundo e desaparecer dessa existência, ser enxergado de verdade é uma experiência que nem todos podem vivenciar.
Se permitir ser visto é difícil, requer coragem.
Tudo que tem de diferente em si, que faz a unicidade existir... Deixar vir à tona, para alguém que possui um mundo inteiro também dentro de si, e apenas esperar que esse ajuste o filtro do olhar e admire, é uma louca rebeldia.
Eu sempre quis ser enxergada, sempre quis que alguém me visse de verdade, reconhecesse meus detalhes e se importasse com eles.
Li em algum lugar que ao menos uma vez deveria experimentar "ser a poesia ao invés de poeta", e compreendi que se aplica.
Não dói em mim amar, enxergar, me esforçar pra que faça as pessoas que eu amo se sentirem únicas no mundo porque meu amor vê o que elas tem de diferente com grande admiração.
Dói em mim a espera.
Como alguém que espera a chegada de quem partiu sem promessa de voltar, sentada na janela todos os dias olhando a estrada esperando uma promessa nunca feita se cumprir, e ao longe avistar à chegada cada vez mais perto.
Mas essa chegada não vem.
Eu me sentei tantas vezes aqui, quantos livros li enquanto esperava? Perdi a conta.
Quantos estranhos vi passando?
Quantos conhecidos vi se distanciando na mesma estrada, enquanto segui esperando?
O amor não me prometeu vir, e ele não virá.
Estou aos poucos deixando de ser visível, se um dia o amor chegar, não conseguirá me
enxergar.