Sobre quem deslegitima o futebol e outros hobbies

Pra mim, não há nada mais chato do que aqueles que deslegitimam o hobby e interesse alheio, como aqueles que dizem não entender quem gosta de futebol, homens correndo atrás de uma bola, e indagam o que quem assiste ganha com uma vitória do seu time de coração no outro dia. Até aqueles que chegam a arrogar-se o direito de dizer que o futebol é o ópio de um povo.

 

Ora, quem faz esse tipo de afirmação não consegue vislumbrar a beleza e plasticidade do futebol, e não sente a emoção de comemorar um título ou a vitória do seu time de coração contra seu rival. O futebol é um esporte que, quanto mais você entende os aspectos técnicos e táticos, compreende quem são os atores em campo, os técnicos e jogadores, mais você aprende a apreciar o jogo. Para mim, ao contrário, não há nada mais triste do que aquelas pessoas que não têm interesses e hobbies definidos. Aqui, vejo algumas pessoas questionando Miguel Carqueija, por exemplo, dizendo que não entendem como ele pode arrumar tempo para assistir animes e ler mangás, que a vida adulta não abarca esse tipo de atividade. Na minha opinião, o questionamento deveria ser o contrário: como não arrumamos tempo para nós mesmos, para desenvolvermos atividades e interesses próprios, ao passo que vendemos a maioria do nosso tempo de vida para o setor privado.

 

Acho que o que torna um indivíduo interessante é muito o que são seus interesses, suas paixões, e mesmo que não seja possível dedicar a elas tempo integral, pelo menos que possamos reservar algum tempo para nós mesmos. Acredito que quem não gosta de futebol perde a magia de um esporte mágico, e é uma figura mais triste. Mas é claro que existem pessoas totalmente alheias ao futebol, mas que são felizes e continuam a viver, como a minha mãe. No caso dela, por exemplo, ela tem apego à religião e ao trabalho. E nem por isso todos questionam os seus interesses pessoais.

 

Concluo refletindo sobre a importância da diversidade de interesses e respeito pelas escolhas individuais. Deveríamos permitir que cada um desfrute de suas paixões, seja assistindo sua bolinha, apreciando animes, dedicando-se ao trabalho, à religião ou a qualquer outra atividade que traga prazer, desde que não cause mal ao próximo. Como Nietzsche expressa de maneira bela: 'Minha doutrina ensina: Vive de tal maneira que devas desejar reviver. É o dever. Aquele cujo esforço é a alegria suprema, que se esforce. Aquele que ama, antes de tudo, o repouso, que repouse. Aquele que ama, antes de tudo, obedecer e seguir, que obedeça. Mas que saiba bem aonde vai a sua preferência. E que não recue ante nenhum pretexto. É a eternidade da vida que está em jogo. Essa doutrina é amável para aqueles que não acreditam nela. Ela não possui nem inferno, nem ameaças. Aquele que não acredita, sentirá, em si, apenas uma vida fugaz.'

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 15/02/2024
Reeditado em 16/02/2024
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