Ectoplasma

Era como um ectoplasma me envolvendo, não tive direito a toque nem presença. Apenas o cheiro sufocante do cigarro em um ambiente tornando-se cada vez mais claustrofóbico.

Nem amar eu te amava de verdade. O que me movia era esse sentimento novo. Havia uma recompensa no ser, uma angústia vibrante do que estava por vir.

Eu estava no lugar certo e na hora certa. A vida operou o milagre do encontro. Talvez estivesse escrito. Foi uma forma de me apresentar a vida novamente, está já tão esquecida. Sim, às vezes a gente esquece dela. Vive como se fosse possível escapar da morte. Num estado de semiconsciência, flertando com uma imortalidade inexistente. Pois se tivéssemos a consciência real do que está por vir. A matéria fria, sem movimentos, paralisada. Sem sentimentos, sem dores, sem culpa. Mas também sem paixão, sem desejo e sonhos. O coração parado, a respiração cessada. Um pulso, que enfim, não pulsa mais. Seríamos arrebatados pela angústia da escuridão de nossa última morada na terra, e dilacerados pela certeza de nos tornamos alimento para minhocas e outros seres repugnantes além de nós. Até que enfim, cumpríssemos nossa jornada de pó. Das estrelas até as entranhas desta terra.

Se soubéssemos disso. Se eu soubesse disso e fosse verdadeiramente capturada por essa angústia mortal, eu me ajoelharia ao chão e rasgaria o peito e não teria pudor deste amor, não amor. E me declararia inteira e me fundiria as paredes. E me deitaria a cama, sentaria à mesa e comeria do pão sagrado. Mesmo que não compartilhado.

Tiane Maga
Enviado por Tiane Maga em 15/02/2024
Código do texto: T7999484
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