Vencendo a insegurança, a vergonha e o próprio crivo - coletânea
Crivo
A autocensura
A criatividade restringe
Pela compostura
Não sou poeta que finge
O rigor do crivo
Deixa-me um tanto inibido
Um tanto passivo
E omisso por ser proibido
Assim sobrevivo
Sem transgredir a censura
Apesar do crivo
O que disse é mentira pura
Não minto à toa
Pois sou o próprio censor
Bem disse Pessoa
Todo poeta é um fingidor
"Finge tão completamente
Que finge ser dor
A dor que deveras sente"
Acredite, caro leitor!
Convicção
Em palavras me desnudo
Externo minha introspecção
Recito para não ser mudo
São as letras da convicção
Opondo aos outros dedos
O polegar viabiliza destreza
Opondo aos meus medos
Ousadia singra a incerteza
Entretenimento, denúncia
Ideias, vivência, indignação
Em renitência ou renúncia
Verso com minha convicção.
Rabiscos
Deixei de lado tanto rigor
Permito-me pequenos riscos
Por já não ter tanto vigor
Arrisco, pois, alguns rabiscos
Deixei de lado a pretensão
Pois me é afinal ínfimo o talento
Nem tudo que vem da razão
Merece escapar do pensamento
Deixei de lado tanta timidez
Conforme os registros nos anais
Com uma pitada de desfaçatez
Eis aqui meus rabiscos uma vez mais.