Coisas para refletir
Coisas pra refletir
Hoje recebi o diagnostico, câncer maligno... Essa palavra ecoou nos meus ouvidos e não consegui prestar atenção em mais nada. Estagio terminal, já havia se espalhado por meu corpo e não havia mais o que ser feito, tinha pouco tempo de vida. Turbilhões de emoções passaram na minha cabeça, lembrei-me de certa conversa que tive com uma criança de três anos há mais ou menos uns 40 anos atrás.
Estava em uma lanchonete quando encontrei com uma amiga e sua filha de três anos e mais algumas pessoas, sentei-me com elas e conversa vai, conversa bem, era hora de ir embora me despedi de todos e abracei a garotinha:
- Eu vou casar com você, sabia?
Todos ficaram surpresas e ficamos em silencio por alguns instantes. Responde;
- Quando você tiver idade para casar eu já serei bem velha, vai querer alguém da sua idade.
Ela complementa...
- Mas não será nessa vida tia, só quando reencarnarmos, vamos nascer no mesmo dia, não sabia né? Eu sei.
Mais uma vez ficamos em silencio, todos se olhavam sem saber o que dizer e ela continuou.
- Sabe tia, a senhora ainda vai ser muito feliz antes disso, a senhora esta triste agora, mas ainda vai viver tanta coisa e eu também vou viver antes da gente se encontrar. Sabe a Ana? (detalhe, ela não conhecia a Ana) a senhora vai casar com ela.
Ana era minha ex-psicóloga, não tínhamos mais contato, ela não conhecia e eu fiquei curiosa.
- Que Ana?
Ela responde;
- A senhora conhece tia, ela te ama, dê uma chance para ela e serão felizes, será pouco tempo, porém intensos, faça dela uma mulher feliz, mesmo que não seja para sempre, será sempre pra ela. (na hora eu não compreendi e não levei muito a serio essas palavras, seis meses depois eu entendi).
Ela ainda completou;
- Depois de Ana a senhora vai reencontrar um grande amor que não teve a oportunidade de viver como deveria, vai casar com ela e no dia 5 de junho de 2024 a senhora vai morrer, eu também vou, sabia? Mas não se preocupe tia, a gente vai nascer de novo, com outras mães e irmãos, quando a gente crescer finalmente a gente vai se encontrar, vai se apaixonar e vamos finalmente viver esse amor.
Nos todos ficamos nos olhando sem nada entender, como pode uma criança falar tudo aquilo? Depois de um tempo de silencio resolvi sair dali, me despedi e fui pra casa, fiquei uns dias com aquilo na cabeça e depois de um certo tempo foi esquecido.
Alguns dias depois eu encontrei Ana na rua, ela me chamou para conversar, aceitei ir na casa dela, lá ela se declarou pra mim, disse que me amava em segredo, e como eu não era mais paciente dela, ela finalmente criou coragem de me dizer o que sente (senti um frio que não sei explicar), eu fiquei calada e fechei os olhos tentando lembrar das palavras da garotinha e de repente senti os seus lábios nos meus, não pude resistir.
Nós realmente fomos muito felizes, seis meses... O tempo da minha felicidade, Ana foi tirada de mim em um acidente de carro, morte instantânea, um motorista bêbado invadiu a contramão e pegou o nosso carro de frente, lado do motorista, não pude fazer nada.
Vivi só por alguns anos, eu não aceitava a morte de Ana, vivi fechada em um mundo onde ninguém conseguia penetrar, me fechei para a vida, era amarga e sozinha, sabe aquelas pessoas que não vê graça em nada e vive de mal com a vida?
Giovana me devolveu essa vontade de viver, trouxe de volta o brilho no olhar que eu havia perdido. Eu a encontrei nesses encontros e desencontros da vida, a garotinha estava certa mais uma vez, hoje eu sou uma mulher feliz, tenho uma esposa linda e amorosa, aquele amor mal resolvido do passado voltou pra me devolver a vida.
Mas e agora? O que será de nós? Será que existe mesmo outra vida, será que morrerei mesmo daqui alguns dias? E a garotinha? O que será da vida dela? O que anda fazendo? Será que é feliz, espero que seja. Não quero imaginar que possa tudo se acabar em tão pouco tempo, será que nos reencontraremos mesmo em outra vida?