Camadas
E assm me fiz inteira. Após me abrir em mil camadas, como uma cebola que lacrimeja a vista. E deixa tudo turvo. Tudo um pouco embaçado. Mas esse choro foi real, juro que foi real. Mesmo sendo uma mecânica perfeitamente criada pela natureza. Água salgada transbordando pelas janelas da alma, em resposta há uma descarga de emoções que não cabe no peito.
E assim me desconfigurei na sua frente, me fazendo real, mesmo que imprecisa, potente mesmo que fragilizada. E confiei na segurança que suas expressões me transmitiam.
Voz que sustenta, olhar que acalma e uma complexidade absurda de corpo e alma. Divagando por filosofias, cânticos, cantos, poesia.
Me atrevo então a te amar. Sem expectativas, sem ganho, sem perda. Sem reciprocidade, sem esperança. Abstenho até mesmo da paixão, do encantamento, da imprecisão do tato, da violência do desejo.
Um amor assim, descolonizado. Sem guerra, sem bandeiras fincadas, sem armas. Seria assim perfeito, sereno e manso. Não fosse a angústia nos atravessamentos noturnos, no seu nome que rabisco nas paredes com o toque dos dedos, no grito assustado, nas dedicatórias para ti que profetizo em silêncio, no seu rosto que não me deixa dormir. Na sua ausência que não me deixa em paz.