Eu queria ser terra.
Sua ausência me devora, sua presença me revira por dentro. Entende porque eu escrevo? Não é talento nem criatividade, é salvação. É fazer as palavras submergidas, em mergulhos sem bote virem a tona. Quantas vezes eu me afoguei, quantas vezes estive por um triz de morrer.
Mesmo que muitas vezes eu não exista para mim ou para o mundo e não entenda essa marcha desnorteada.
Eu queria ser terra, pedra, rocha. Concretude pura. Realizar cálculos. Palavras me esgotam, se esgotam. Vão embora. Só preciso fazê-las ir embora, e talvez um dia eu durma em paz e não vou ter mais um receituário com um remédio para dormir. Que eu não tomo. Encaro o escuro da insônia, madrugada a dentro. As palavras me acompanham e quando estou prestes a captura-las, me escapam. E enfim adormeço.
E entre desejos que não se concretizam, pessoas que vão embora, silêncios. Estou aqui. Diante de ti. Sobrevivente. Emergida. Junto com minhas parcas palavras sem sentido. Mas que estranhamente me guiaram até aqui.
Em um labirinto de fios invisíveis, e os seus cabelos. Há coisas que não alcançamos nessa vida. Há a lua flutuando, um raio de sol no seu rosto, suas mãos que eu nunca toco.
Continue bem longe da minha presença, pungente e cheia de cicatrizes. Esse amor escancarado, saltando aos olhos. Não serve de nada agora.