Deja Vu opaco
O que me apavora é que pode sempre ser assim, um vir a ser que se perpetua a séculos, por gerações. Há algo ancestral pulsando em mim, que mesmo em círculos infinitos e ciclos que não se fecham, permanecem inteiro. Há um sofisticado sistema invisível que molda caminhos, que traçam movimentos, que escancaram fragilidades. Um deja vu opaco de coisas que já foram brilhantes. Há uma evaporação permanente, de sonhos, de palavras que escapam gasosas flutuando pelo infinito céu perene.
Escrevo palavras soltas que no fim só dizem a mesma coisa e sempre ao meu respeito. De algo muito secreto e profundo que eu nem mesmo tenho acesso. Por vezes, levemente toco os dedos e tenho a leve sensação de poder senti-la. Fria, mas ainda pulsando. Uma contradição desconcertante, já que em minha fantasia mais secreta, de alguma forma ainda se perpetuaria quente.
Quais sonhos aflitos encharcaram o travesseiro de alguma mulher em minha árvore genealógica, um milênio antes de mim? E o grito que deu ao acordar do pesadelo perpetuou até meu nascimento errante. E me fez de alguma forma me sentir digna, mesmo que não bem-vinda.