Meu grande amor

Já conseguia sentir seus olhos lacrimejando. Ao ler sua poesia de amor, sentiu-se obsoleto, ultrapassado, momentâneo. Tentava negar que estava sozinho, que quem lhe chamará de meu grande amor noutro dia, havia encontrado outro. A indignação saltava junto de suas veias. Queria xinga-lo de todos os palavrões existentes, culpa-lo por todo seu sofrimento, discutir a tarde inteira com este tremendo mentiroso. Era um ato totalmente imaturo. Um mecanismo de defesa irracional feito para proteger seus vulneráveis sentimentos, suas fraquezas. Podia sentir o ódio inundando seus pensamentos, não deixando espaço algum para a autorreflexão. Conhecia bem esta situação, afinal, vivenciou-la inúmeras vezes. De novo e de novo, se escondia em impulsos intensos e irracionais para não enfrentar seu maior medo: seus sentimentos. Através de tantas crises, percebeu que aquele não era o modo certo de se lidar com isto. Bastava, não se enganaria outra vez. Assim, com pesar, olhou para dentro de si, em busca de dissecar tal sentimento. Sem condolências, rasgou a ferida. A dor foi sem igual. De fato, percorrer por seu lado emocional era desafiador. Chorou como se fosse uma criança,e de fato, naquele momento, era uma. Para se

conhecer verdadeiramente, tinha de falar com ela, seu eu infantil. Aquele que já sofrerá por um mundo que não entendia enquanto era vulnerável e indefeso. Percebeu que sempre mentia para ele. Tentando protege-lo de tudo que podia machuca-lo. Mas não poderia continuar se enganando. Adentrou mais afundo neste turbilhão de emoções. Enfim, descobriu oque se passava por trás daquele surto irracional. Não era ciúmes tão pouco saudade. Era na realidade, uma inveja venenosa que se mesclava com uma carência desesperada. Achava uma injustiça que ele próprio era incapaz de encontrar um novo grande amor. Sentia-se abandonado. Por conseguinte, clamava por algo que preenchesse esse vazio. Por esta razão, qualquer boca servia assim como nenhuma continha verdadeiro amor. Agora, não sentia mais raiva. Estava coberto por um alívio que nunca havia sentido antes.

Felipe Yamato
Enviado por Felipe Yamato em 27/01/2024
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