Irritando as Musas.
Pressfield fala em seu livro (ou livros) duas coisas que são muito verdadeiras.
Você só escreve algo que as Musas o inspiram. Plasma do divino na esfera humana de tempo e espaço.
Você escreve para descobrir quem é você.
Por vezes já me peguei refletindo sobre diversos temas e assuntos. Principalmente depois de ler um bom livro. Por algum motivo sempre saia uma poesia, uma reflexão importante, uma frase filosófica ou uma percepção da Natureza.
Era como se naquele momento tudo fizesse sentido. Andava no caminho pela neve, indo ao trabalho, cheio de pessoas à minha volta e naquele momento de inspiração, parecia que andava sozinho, só tinha eu a neve branca no chão e aquela reflexão. É como se naquele momento todo o entorno estivesse com um Blur, uma ofuscação que não sei explicar. Como se rodasse uma cena de filme e o filme era apenas eu e eu.
Passado esse momento e entrando no trabalho, tudo aquilo sumia, voltava as cores vivas da realidade entre o espaço e o tempo. As reflexões, cuja a capacidade de escrever não a tive, simplesmente sumiram naquele momento. “O que era mesmo que estava pensando? O que era mesmo que era tão importante?”.
Novamente um dia e o mesmo processo acontece, não vou dizer que todo dia, mas sim, todo dia. Ou ao menos nos dias em que lia e era tocado pela Musa por alguns segundos.
Não vou dizer que isto é regra, mas o artista, ele tem a capacidade de ler uma pequena frase e fazer dela sair uma reflexão, por vezes pequena, por vezes um texto e por vezes quase um livro inteiro. Aquilo o intriga, ele vive quase o mesmo processo, ele entende, ele sente aquilo que acontece.
O problema do artista, ou do falso artista talvez, é que ele irrita a Musa quase constantemente. Aquela reflexão que estava em minha cabeça, não a escrevi, não lembro dela, não fiz o meu trabalho. Não fiz exatamente o que deveria ter feito. Talvez por isso escrevo tanto sobre a Musa me abandonar ou sobre como a Musa está irritada comigo.
A Musa, em sua sinfonia mais bela, em seu texto mais bonito, em sua poesia mais harmônica, em sua peça mais dramática, quer ensinar o artista quem ele é. É como se ela dissesse, “ Olha, isso aqui é você! Você precisa ser você! Porque você não está sendo você?” E o artista, o é, por aquela fração de segundos ou minutos, com tudo ofuscado em volta, depois a realidade esmagadora volta à tona. As cores vivas, a realidade estressante, os problemas da vida pessoal, assim o artista sangra, sem ao menos saber, quem ele é.
*Termino por aqui, pois chegou minha estação, não há tempo suficiente para escrever no trem, mas se escrevo fora do trem, a inspiração não vem e é este isto que quero falar a seguir.