O poder da renúncia
Certa vez li que em algum lugar do mundo, no passado, as pessoas tinham como hábito presentear seus maiores afetos com aquilo que se tinha de mais valioso.
Valioso no sentido de valor mesmo, não de preço! É importante entender a diferença destes conceitos.
Imagine-se presentear com um relógio quebrado que se encontrava há décadas na família, que foi passado de geração para geração, ou até mesmo com um mero quadro velho pendurado na parede que fora recebido como presente de uma pessoa muito estimada, já falecida e de quem se guarda muita saudade.
Tais objetos são de valores inestimáveis para quem está presenteando, mas se fossem vendidos, por exemplo, não pagariam o embrulho.
Se analisarmos superficialmente esta prática cultural, a primeira interpretação que vem a mente é no sentido de que o melhor presente nunca estará no preço, mas no valor.
É como se quisesse dizer o seguinte: não importa o que se recebe, mas de quem e porque recebe!
A conclusão é um tanto quanto óbvia, mas o fato é que o significado disso é muito mais profundo, justamente porque a mensagem não está no ato de presentear em si, mas na renúncia da pessoa que está presenteando.
Não existe presente mais valioso do que uma renúncia!
A entrega voluntária, não onerosa e sobretudo muito dolorosa daquilo que se tem de mais valioso, é a demonstração mais pura, verdadeira e sincera do apreço imensurável que se tem por uma determinada pessoa.
Representa a entrega de uma parte da sua alma, da sua propriedade afetiva, e isso é muito forte.
Para além de tudo isso e trazendo este contexto para os dias atuais, a renúncia não precisa se referir necessariamente a um objeto, mas pode, por exemplo, ao próprio tempo: também conhecido como aquilo que temos de mais valioso, diante das correrias da vida.
Quando se renúncia o tempo a fim de dedicá-lo a outra pessoa, ou seja, se dedica um tempo para estar genuinamente com a outra pessoa, muitas vezes não temos a mínima ideia do que isso representada para aquele que está recebendo a honraria.
As vezes preferiríamos estar em outro lugar, ocupando o tempo com alguma tarefa inacabada ou até mesmo fazendo alguma viagem, com outras pessoas, outros assuntos, e está tudo bem. Isso não diminui o afeto.
Acontece que para aquela pessoa que conhece o custo da tua renúncia, a tua abdicação a tantos outros convites interessantes e as coisas "mais importantes" se torna um presente que não tem preço!
Então não é sobre encontrar um tempo na agenda, é sobre cancelar o que está marcado para um dia qualquer a fim de dedicar este precioso presente a uma pessoa que se ama.
Parece fácil, mas não é!
Não porque é tão difícil se fazer presente, mas porque é difícil entender o quanto a prática da renúncia pode impactar a vida das outras pessoas, sobretudo nas relações afetivas.
Entender o poder de uma renúncia é ressignificar a perda de tempo.