Diagnóstico familiar

Sempre que vc ouvir uma história, que transforme uma outra pessoa em um monstro, procure ouvir a versão da pessoa atacada. Manipuladores são expertos, em transformar vítimas em algozes. Isso é um clássico na Psicologia familiar

Essa observação, é realmente muito importante na psicologia, e é um bom conselho em diversas situações da vida. Sempre ouvir as diversas partes de uma história, pode ajudar a formar uma visão mais equilibrada, do que aconteceu e evitar mal-entendidos.

A Psicologia Sistêmica Familiar, por exemplo, tem um foco amplo, nas relações e nos padrões de interação, entre os membros de uma família. Ela considera que, os problemas de um indivíduo, estão muitas vezes enraizados, nos padrões de uma má comunicação e nas dinâmicas do sistema familiar, como um todo. Ao considerar cada ponto de vista, e entender como as pessoas se vêem, dentro desse sistema, pode-se chegar a interpretações mais justas, e a soluções, que considerem o bem-estar de todos os envolvidos.

Desenvolvendo melhor, essa dinâmica, diante das luzes da psicologia sistêmica familiar, aliada à psicologia cognitiva, podemos sem medo de errar, afirmar que:

A Psicologia Sistêmica Familiar e a Psicologia Cognitiva, são abordagens complementares, que podem oferecer uma compreensão holística, da dinâmica de relações humanas.

Psicologia Sistêmica Familiar:

Esta abordagem, considera a família como um sistema, uma entidade composta de membros que interagem entre si, influenciando-se mutuamente. Esse modelo teórico, ressalta que os comportamentos e problemas de uma pessoa, não podem ser totalmente compreendidos, sem levar em conta o contexto e as relações do sistema familiar. Mudanças em um membro da família, podem afetar todos os demais, pois estão todos interconectados. O objetivo é identificar padrões disfuncionais de comunicação, e comportamentos que se repetem ao longo das gerações, e trabalhar para transformá-los.

Psicologia Cognitiva:

Essa abordagem, foca nos processos internos de pensamento, - crenças, percepções, julgamentos e raciocínio. Na terapia cognitiva, o foco está em como as pessoas interpretam eventos e como isso, influencia seu emocional e seu comportamento. Cognitivistas direcionam o tratamento, para a alteração de padrões de pensamento disfuncionais, ou, irrealistas, para melhorar o estado emocional e os comportamentos.

Aliando as Duas Perspectivas:

1. Compreensão de Crenças e Normas Familiares: Combinar os dois campos, permite ao terapeuta, entender, como as crenças e regras familiares, são internalizadas e transformadas, em esquemas de pensamento individuais. Por exemplo, se uma família valoriza a superação de desafios, sem demonstrar vulnerabilidade, um membro pode desenvolver a crença de que, expressar emoções é um sinal de fraqueza.

Se a mãe, constantemente diz aos filhos que, ela é quem sustenta a casa, que é uma herança paterna, para desqualificar o pai idoso e deficiente, chamando-o de lixo e vagabundo, caracteriza-se alienação parental.

Na Psicologia Sistêmica Familiar, poderia-se analisar essa situação contemplando a narrativa que está sendo construída dentro da família. Se a mãe enfatiza consistentemente suas contribuições financeiras imediatas (pagar contas, comprar mantimentos) e minimiza ou omite a contribuição do pai (ceder a casa por herança), pode haver uma mensagem implícita de que o valor de uma pessoa no sistema familiar é determinado apenas por contribuições financeiras concretas e imediatas, ao invés de contribuições de longo prazo ou intangíveis.

Essa ênfase nas contribuições monetárias, além da dívida mencionada de 15 mil reais (IPTU), que pode implicar na perda do imóvel, pode transmitir uma mensagem distorcida sobre a responsabilidade financeira e a importância das ações de cada um. Se a criança ouve a mãe referir-se ao pai como inútil, pode começar a ver o pai através dessa lente, adotando essas visões e palavras ofensivas, como se fossem suas próprias opiniões.

Do ponto de vista da Psicologia Cognitiva, esses comportamentos da mãe podem ser modelados por crenças ou esquemas que ela tem sobre dinheiro, contribuição e valor. Estas crenças são então espelhadas e reforçadas pelas crianças, que desenvolvem uma atitude desrespeitosa em relação ao pai, baseada na interpretação das crenças e comportamentos de sua mãe.

Para endereçar esse problema de uma perspectiva integrada, uma intervenção terapêutica poderia incluir:

1. Avaliação das crenças e percepções da mãe sobre as contribuições e o valor dos membros da família.

2. Exame das comunicações, entre os pais e como elas impactam, as crenças das crianças.

3. Facilitação de diálogos familiares, para ajudar todos os membros a expressar seus sentimentos e percepções de maneira construtiva.

4. Educação sobre a importância da valorização de todos os tipos de contribuição, dentro de um sistema familiar.

5. Promover a comunicação e o reconhecimento de todas as formas de cuidado e suporte presentes na família, sejam elas financeiras ou emocionais.

É crucial numa terapia familiar, que todos os membros tenham a oportunidade de ser ouvidos e que novas narrativas possam ser construídas conjuntamente, de modo que o valor de cada pessoa, seja reconhecido para além das contribuições financeiras, considerando também o suporte emocional, a história partilhada, as condições individuais e as intenções de cada um.

2. Intervenção Sistêmica com Foco Cognitivo:

A intervenção, pode focar em modificar as crenças e percepções, que foram formadas no contexto familiar. Por exemplo, se uma pessoa desenvolveu a crença de que não é boa o suficiente, devido a constantes críticas familiares, a terapia poderia trabalhar essa crença, ao mesmo tempo em que aborda a dinâmica familiar subjacente.

3. Inter-relações entre Pensamento e Comportamento Familiar:

Compreender como o pensamento influencia o comportamento, dentro do sistema familiar, ajuda a identificar e modificar ciclos disfuncionais.

Se o padrão familiar, promove aversão ao erro, os membros podem desenvolver, um perfeccionismo paralisante, o que seria abordado tanto no nível do sistema, quanto nas crenças individuais.

4. Mudança de Padrões Familiares e Processos Cognitivos:

Ao trabalhar com a família como um todo, é possível criar um ambiente, que suporte mudanças de padrões, de pensamento disfuncionais.

A comunicação aberta e empática, dentro da família, pode ajudar os membros, a questionar e modificar, pensamentos automáticos negativos.

Ao integrar essas duas abordagens, terapeutas têm uma ferramenta poderosa, para entender e tratar questões, focando tanto nos padrões de interação, entre os membros da família, quanto nas cognições individuais.

Isso pode levar a mudanças mais sustentáveis, uma vez que a família é um componente chave, na formação e manutenção de pensamentos e atitudes.

Encontrar um único culpado no jogo familiar, é na verdade, um recurso que famílias adoecidas pela disfuncionalidade de pensamentos negativos e emoções negativas, utiliza, para esconder a responsabilidade de todos, nos problemas da casa, aqueles que elegem apenas um único culpado, o fazem, para que nenhuma responsabilidade lhes seja atribuída.

Esse é um conceito bem conhecido dentro da Psicologia Sistêmica Familiar, frequentemente referido como "bode expiatório". No contexto da dinâmica familiar, a prática de designar um culpado, único, muitas vezes serve como mecanismo de defesa, para o sistema familiar, uma forma de distrair a atenção dos problemas mais profundos e das responsabilidades, não compartilhadas entre os membros da família.

Todos os membros da família, interagem dentro do sistema, e essas interações contribuem para a manutenção do funcionamento do sistema — tanto de maneiras saudáveis, quanto disfuncionais. Quando um membro é rotulado como o "problema" ou o "culpado", as seguintes dinâmicas podem se apresentar:

1. Desvio de Responsabilidade:

Ao focalizar num único membro, os outros indivíduos do sistema, evitarão confrontar seus próprios comportamentos problemáticos e a parte que desempenham, nos conflitos do sistema familiar.

2. Manutenção do Status Quo:

A designação de um bode expiatório, mantém o "equilíbrio familiar" existente, mesmo que esse equilíbrio seja disfuncional, porque impede a família de fazer mudanças difíceis, nos padrões de relacionamento.

3. Projeção:

Através da projeção, membros da família, podem atribuir suas próprias falhas e ansiedades, ao bode expiatório, evitando o desconforto de enfrentar essas questões, em si mesmos.

4. Controle e Poder:

Em alguns sistemas familiares, a culpa pode ser uma ferramenta de controle, para manter certas hierarquias ou dinâmicas de poder.

Enfim, a terapia familiar sistêmica, procura trazer à luz esses padrões e promover a responsabilidade compartilhada.

Os terapeutas encorajam os membros da família, a refletir sobre suas próprias ações e como elas, todos contribuirem para a dinâmica familiar como um todo. O objetivo é interromper ciclos de culpa e vergonha e promover a cura, por meio da compreensão e da mudança de comportamento coletiva.

É importante para o bem-estar da família, lidar com os problemas na raiz — o que significa olhar além da superfície e dos sintomas, (como ter um membro "problema") para entender, os padrões subjacentes e como eles são mantidos. O reconhecimento da participação de cada um, pode abrir caminho para uma maior empatia, comunicação mais saudável e relações familiares mais fortalecidas.

Cabana.

BARTHES
Enviado por BARTHES em 15/01/2024
Código do texto: T7976741
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