O estudioso estuda.
Quem decide se dedicar a estudar um assunto estuda o assunto que decidiu estudar. Que tautologia, meu irmão! Tautologia?! Que bicho é esse?! Circunlóquio. Circunlóquio?! O que é isso?! Papo furado. Viagem na maionese. E vivas à batatinha!
Falando sério: quem se diz estudioso de um certo assunto, e se é o assunto desses que se pode observar de infinitas perspectivas e deles tirar infinitas conclusões, tem, por dever de ofício, procurar por duas ou três principais correntes de pensamento, certo de que durante todo o tempo dedicado ao estudo do assunto ao qual se dedicou talvez não tenha obtido as informações mais importantes e que após concluído o estudo tenha se inclinado para uma direção favorável a esta ou aquela visão-de-mundo e a este ou aquele personagem - nada a se reprovar, neste ponto, no entanto; do contrário, limita-se a alimentar seus preconceitos, e robustecer suas premissas, mesmo as erradas, que lhe foram enfiadas na cabeça por algum meio qualquer. Na História, por exemplo, quem, lendo obras acerca de certos personagens de um determinado período da história de um país concentra as suas leituras nas obras de um dos - por exemplo - dois grupos em conflito, e recusando-se a ler as do outro, por inclinação, de antemão ciente de quem eles são, não está a estudar, mas a papaguear um idéia, uma agenda política ou ideológica, ou para sustentar uma visão de mundo, e, consequentemente, a propagandeá-la, fazer valer sua idéia, não raro preconcebida, do período histórico estudado e de seus protagonistas.
Além do exposto nas linhas acima, não sei se com clareza - a idéia esta clara, límpida, translúcida, na minha cabeça, mas me pergunto se eu conservo a sua clareza ao expô-la em letras de fôrma -, tem o estudioso de intuir que muitas de suas fontes são falsas, muitos historiadores mentiram desavergonhadamente, para atender aos interesses dos poderosos cujas histórias escreveram, e por ódio a este ou aquele personagem, e por veleidades incontáveis.
Toda a reflexão acima nasce da sem-razão que quaisquer pessoas percebem na postura de gente que se atribui o poder exclusivo de, sem que observe o objeto supostamente estudado, saber as explicações que explicam o que dizem que explica, mesmo, e principalmente, que nada explique, mas que atende à vaidade e à presunção do explicador. E que este ponto fique bem explicado, bem maravilhosamente explicado. Não é o que se vê em muitas gentes que, não vindo ao mundo há dez mil anos, têm a resposta, e a resposta certa, acreditam, para todas as questões, e sem que ao menos tenham dedicado um minuto de suas curtas existências para sequer lamberem a capa de um livro e para ouvirem alguém, seja o alguém quem quer que seja, falar do asssunto do qual tudo sabem porque são daqueles que nasceram sabendo?!
E assim caminha a humanidade. Ou rasteja, sei lá eu.