Espaço para o outro

Muitas pessoas expressam a sua vontade por ter alguém em suas vidas. E hoje quero me referir ao sentido romântico, mesmo. Muitas pessoas querem despertar em uma fria manhã de sábado ao lado de alguém que as abrace ternamente e as aqueça com o seu calor. Muitas pessoas querem acordar em uma ensolarada manhã de domingo fazendo planos de caminhar pela orla da praia na companhia daquele que as faz sorrir abobadas. Muitas pessoas querem que aos finais de cada dia exaustivo de trabalho, possam chegar em casa e serem consoladas, confortadas ou mesmo recuperadas pelo afeto, pela presença e pela benção da parceria daquele a quem confiaram os seus corações. Muitas pessoas querem o amor em suas vidas, querem se apaixonar, querem viver aquelas histórias românticas que fazem qualquer ser humano sensível suspirar. No entanto, poucas pessoas abrem espaço em suas vidas para que esse outro se achegue. Isso porque muitas pessoas querem um amor que as note e lhes dê importância, mas pouco fazem para que a outra parte também se sinta notada e importante. Porque em uma frase na qual mencionamos o amor, é de mau tom que também usemos palavras de egoísmo.

“O paradoxo é que, embora muitos digam que querem ‘ter’ alguém, não conseguiram ainda abrir espaço para o outro em sua vida. O anseio de uma relação infelizmente não garante que ela seja encontrada” (Beatriz Cardella)

Essa é a mais pura verdade! Muitos idealizam como seria esse amor, como gostariam de vivê-lo, como almejam desfrutá-lo, ignorando o fato de que o amor que viveremos está diretamente relacionado ao amor que estamos dispostos a construir. Então para além de desejarmos por uma companhia com a qual intencionamos construir uma vida, precisamos nos questionar se estamos abrindo espaço para que ela se faça presente. E abrimos espaço quando deixamos de lado o nosso ego, por exemplo. Abrimos espaço quando silenciamos a nós mesmos, com nossas tantas e inúmeras exigências. Abrimos espaço quando estamos dispostos a permitir que o outro nos revele como verdadeiramente é, e não como fantasiamos que seja.

É claro que podemos descobrir que aquela não é uma companhia que nos agrade, então que sigamos em frente.

Mas se nunca permitirmos que as pessoas nos mostram como são, como saberemos?

“Falta-nos a experiência do silêncio necessário para que outra voz que não a nossa tenha lugar em nossa vida; para que outro ser possa encontrar eco em nosso mundo, em vez de falar sozinho e vice-versa” (Beatriz Cardella)

Permitimos que o outro fale? Que o outro se expresse? Que o outro nos revele quais são as suas necessidades? Ou será que ficamos em um eterno monólogo no qual apenas a nossa opinião importa, a nossa vontade prevalece, o nosso sonho se realiza? Há espaço em nós para que a existência do outro ecoe e, assim, possamos respondê-la? Porque é fato que não devemos ser responsáveis pela vida de ninguém, mas também é fato que quando falamos de amor estamos estabelecendo alguma forma de parceria, e parcerias não funcionam bem quando apenas um é ouvido, apenas um é percebido, apenas um é compreendido. Para que o amor funcione, para que o amor realmente funcione, é de fundamental importância que o outro encontre um espaço no qual sinta que é visto, é ouvido, é encontrado.

Sonhar com o amor é gostoso. Suspirar assistindo aos melosos romances é legal. Mas a verdadeira magia do amor está na disposição que realmente temos por fazê-lo existir e persistir. Pode parecer fácil abrir espaço para o outro, mas esse é um grande desafio. Precisamos nos abaixar, diminuir nosso ego aumentando nossa humildade, precisamos reconhecer o quanto somos ignorantes a respeito do outro para que ele próprio nos ensine sobre quem é, precisamos abrir mão do controle, do egoísmo, precisamos esvaziar a nós mesmos para que o outro encontre um lugar no qual consiga se aconchegar. Mas essa é a graça do amor. É o esforço que cada um emprega por fazê-lo nascer e florescer. Acredito que esse seja o ponto mais importante do amor: a disposição que se tem para a sua construção.

Já disse por aqui, mas acho válido repetir.

Para saber quando o amor é de verdade, pergunte-se sobre como tem sido o seu empenho por fazê-lo acontecer.

(Texto de @Amilton.Jnior)