Viva, potente e forte!
Desde que mãe partiu, a casa dos meus avós foi pouco habitável.
Ela era o esteio e quase tudo ruiu, meu avô foi para a cidade, já que precisava de cuidados.
A cristaleira repleta dos copos e pratos de ferro batido e pintado ficou vazia dias após a despedida, o celular nunca mais tocou, os bichos foram sendo vendidos e poucos restaram…
No último final de semana eu voltei lá, após problemas familiares meu avó retornou para o seu lar e novamente estabeleceu morada, de onde talvez nunca devesse ter saído.
Ao retornar e encontrar um sorriso no rosto do meu bom velhinho, a casa limpa e cheia de vida, parece que alguma coisa aqui dentro também voltou para o lugar.
Nada era como antes, mas não tinha também o abandono da partida da minha avó.
Das duas garrafas sempre cheias, só uma continha o café, fato que me lembrava que ela não estava mais lá, mas muito dela, ainda estava.
A casa não é só do vô, será sempre de Pai Velho e Mãe Velha.
O umbuzeiro carregado parecia tão mais bonito, senti que ele ficou feliz também por novamente estar acompanhado.
Tudo naquele lugar é sagrado e conta histórias.
No corpo do umbuzeiro tem rabiscado o nome dos netos que ali brincaram…
Quanta saudade eu senti do ar de vida que por quase dois anos faltou naquelas terras.
Tirei as sandálias, pisei no chão de pedra toá onde tanto corri a infância toda, brinquei com minhas sobrinhas e fizemos dança para chamar as chuvas que São Pedro nos prometeu, para ver se as semeaduras vingam, se os pastos renascem e voltarmos a colher alguma coisa que seja.
Fiz café para encher as duas garrafas.
Uma sem açúcar para o vô, outra com açúcar para quem chegar e assim preferir.
Ao lavar as vasilhas, enquanto o vô tomava café eu me vi passando o paninho na mesa o tempo todo, com as mãozinhas nervosas, sem nem perceber.
Mãe só conversava com a gente na cozinha limpando a mesa, sem nem estar suja.
Sinal de que, enquanto eu viver, minha espoleta viverá em mim.
Viva, potente e forte!