“Encontros e Desencontros”

Não sei se a pessoa que amo irá gostar de ler isso aqui, mas eu queria falar sobre um assunto muito importante. Você tem noção de como somos privilegiados por nos encontrarmos um ao outro? Quero ir além disso. Diferentemente de mim em relação a você, não deve ser fácil gostar de alguém como eu (presumindo que goste), porque admito que no momento não ofereço muitas perspectivas de um relacionamento estável.

No entanto, o que me esforço para demonstrar é que, às vezes, um relacionamento que tem todo o verniz de ser saudável não traz nenhuma garantia de felicidade. Lembra do caso que contei do meu amigo, um bom partido que se casou com uma mulher da igreja e foi traído? Isso é apenas um exemplo do que pode acontecer. Você é privilegiada, sabia? Felizmente, teve uma vida higienizada, digamos assim. Provavelmente, o único contato que teve com alguém da periferia foi comigo, além, é claro, dos seus pacientes, mas isso não conta.

Nunca teríamos a possibilidade de nos conhecermos se não fossem as redes sociais. Muito provavelmente, você nunca teve que andar de ônibus, exceto os confortáveis intermunicipais, e também de trem (pelo menos não no Brasil, né). Apesar de se relacionar com pessoas do mesmo padrão que o seu, você tem a consciência de que faz parte de uma minoria? Acho que devemos nos lembrar disso. Eu mesmo me considero um privilegiado, por ter um celular moderno, de grife, ter TV a cabo, videogame atual, alguns serviços de streaming, Premiere, e acesso a livros e filmes, mesmo morando na periferia de São Paulo. Pelo menos é um bairro tranquilo, sem criminalidade. Quem mora na periferia é como se morasse no interior, porque leva mais tempo para chegar no centro, e todos do bairro se conhecem. E ai que a gente se “encontra”.

Você, por outro lado, nunca deve ter sequer pisado na periferia e mora perto de tudo. Mesmo assim, a sociedade capitalista é curiosa: talvez você conviva com mais pessoas que tenham mais possibilidades do que você, do que eu.

Não sei exatamente por que fiquei com vontade de falar tudo isso e nem como concluir esse texto. Uma palavra batida é gratidão, mas às vezes de fato temos que agradecer por nossas famílias e nossas circunstâncias, mesmo não sendo as ideais.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 02/01/2024
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