Em tom de vida
Eu cresci na terra do Virgulino, vulgo Lampião,
Ouvi histórias diversas, desde do apoio até à oposição.
Escutei o coco do Joci Batista, sofri com o brega do Reginaldo Rossi;
Me politizei com Chico Science, me questionei com o Machado de Assis;
Reencontrei-me com Lima Barreto, me afeiçoei com a Conceição.
Ouvindo cantigas de carnaval, me emocionei com algumas belas orquestras de frevo,
Mas, não tive pique com tanta emoção, me acolhi com Chico César;
Relaxei com o mestre Marley, viajei no Facção.
Ouvi o Tim em Racional e com Racionais,
Amontei o meu ódio e distribui como se não houvesse amanhã.
Briguei, bati, apanhei sem motivos, com motivos apanhei um pouca mais.
Perdi um grande amigo, tive ódio do Deus que pregavam e de todos aos quais me circundavam.
Ao sentir-me nada, cantei Risoflora em tom baixo,
Tentei imaginar-me forte tão qual o Luiz Gama e idealizei viver mais que o Malcolm.
Quisera sentir o passado como se fora apenas o que é, conseguir absorver o mundo com a ingenuidade
de um ódio conturbado, sem feridas mentais aparente, no entanto,
Ainda sinto o cheiro do desprezo, ouço o barulho do medo e me apavoro com o silêncio.