Da necessidade da Análise do Discurso

Em Origens do Totalitarismo, Hannah Arendt escreve " Essencial para o totalitarismo era a eliminação de todos os laços e as fontes de significados estranhos ao "movimento" " . Movimento aqui é o Nazismo difundido como um movimento, em oposição ao Estado, preconizado pelo fascismo. Pois nesse, a doutrina diz que o Estado fascista é uma síntese de todos os valores, por isso, deve ser total e o indivíduo nada mais é que um fragmento sem identidade própria porque ele se encontra na alma que é o Estado.

No nazismo, deslocar o Estado para movimento, significa dizer que o indivíduo se constitui no todo quando em Movimento; quando em marcha e único num desejo comum. Todavia, tanto num, quanto noutro, ou seja, tanto no fascismo, como no nazismo, para que esse se torne possível, é necessário que " a vida interior de cada indivíduo precisa ser reivindicada e transformada pela perpétua ameaça de punição sem crime", ou seja, a punibilidade como "mecanismo de adesão" é outra ferramenta à disposição contra quem se insurgir. A própria noção de espaço público, que para Arendt é o local próprio da livre ação, se dissipa, se perde, e se destrói "os laços humanos comuns de lei, normas, confiança e afeição". Ou seja, o fim dos afetos faz nascer o homem atomizado; atomizado, o homem age guiado por idéias e ideias sem questionar. É preciso ainda, inventar grupos de fora. No fascismo, os comunistas, no nazismo, os judeus, principalmente. Porém, ambos contam com o " grupo de dentro". Grupos de dentro são todos os que se requer que submetam corpo e alma ao regime.

Noutras palavras, qualquer regime que se pretende totalitário, lança mão do terror para se instalar. Esse terror, baseado numa engenharia discursiva, lança mão de um grupo (como já apontado, no nazismo, os judeus, no fascismo, os comunistas) específico como causa das mazelas que se quer combater.

Dito de outro modo: é preciso criar na figura do Outro ( é pode ser qualquer outro) a causa primeira das crises e ou decadência da sociedade. Apontar o Outro como a razão fundante das frustrações, é a mecânica mais elementar dessa perversa engenharia.

Então, para que isso não torne a ocorrer, devemos nos deter no Discurso que está sendo prenunciado e pronunciado. Não esqueçamos: nenhum discurso é neutro.

Passamos, e ainda não saímos totalmente, desse mecanismo. Não nos esqueçamos. Não faz tanto tempo assim.