Então é Natal!

O que foi isso? Parece que dormi, despertei e o ano já está acabando! Não sei se você teve essa mesma sensação, mas me parece que 2023 passou em uma velocidade surpreendente. Mas é apenas uma sensação. Porque o tempo não muda. Ele é o mesmo. E passa no ritmo de sempre. O que tem mudado é a nossa percepção sobre ele. Ou a nossa falta de percepção sobre ele. Porque é fato que, literalmente, não vemos o tempo passar. E quando somos obrigados a acompanhar sua passagem, como quando aguardamos nossa vez de sermos atendidos pelo cardiologista, tratamos de nos encher de distrações para não termos que saborear o amargo sabor de nosso tédio. Não sabemos mais apreciar a vida. E estamos, a cada dia, mais e mais preocupados com o resultado, com o desfecho, com o objetivo, esquecendo-nos de que mais importante que o fim, é o percurso que nos leva até ele.

Aliás, esse pensamento tem a ver com um vídeo que um paciente trouxe à sessão. Nesse vídeo uma pessoa, sendo entrevistada, dizia que a pessoa paciente é imbatível. Porque o paciente já está vivendo. E isso faz sentido. Pois os apressados estão muito mais preocupados com o final da viagem, por exemplo, do que com o caminho que terão a trilhar. Um caminho cheio de paisagens e pessoas desconhecidos. Um caminho capaz de nos oferecer os mais inesquecíveis e enriquecedores dos aprendizados. O paciente, ao invés de estar tão focado com o destino, consegue apreciar a vista do percurso. Mais que isso. Consegue ver beleza no caminhar. Ele sabe que em algum momento chegará. Mas se conseguir apreciar a estrada, terá muito mais histórias a contar.

Como anda a sua qualidade de paciência? Você tem conseguido apreciar a vista? Tem conseguido sentir a estrada? Tem vivido realmente? Tem apreciado o seu tédio e aproveitado para conversar consigo mesmo? Tem aproveitado os momentos de espera para saber como seus filhos estão indo na escola? Tem aproveitado o engarrafamento para olhar para a pessoa que ama e declarar a veracidade de seus sentimentos? Tem tirado flor de pedra, como diria Karina Fukumitsu?

O tempo parece estar mais veloz porque nós estamos mais impacientes, voltados a um futuro que nunca chega, a um amanhã que jamais nasce. E isso acontece porque nunca estamos satisfeitos. Mal sentimos o gosto do almoço e já estamos planejando o jantar. E, então, quando vemos, já é Natal. E como cantaria aquela musiquinha, “o que você fez?”. Perdeu tempo? Ou se enriqueceu a cada minuto da sua vida? Ou ao menos procurou se enriquecer? Porque é verdade que nem todo instante será enriquecedor. Mas se nem tentamos ver riqueza neles, como seremos enriquecidos?

Nesse final de ano, às vésperas do Natal e da Virada, gostaria que você pensasse com carinho na reflexão que trouxe. A vida não está mais rápida. Nós é que não estamos verdadeiramente conectados a ela. Que tal traçar como meta para o próximo ano ter mais qualidade de presença? Mas não deixe para começar esse objetivo quando a folha do calendário virar. Não... Comece agora! Relaxe os ombros. Solte a respiração presa em seu peito. Sinta a posição na qual você está. Agora retorne ao início do texto e leia-o outra vez, com mais atenção, com mais conexão, sentindo cada palavra, apreciando cada vírgula, permitindo que a mensagem aqui inscrita toque o seu coração e o ajude a ter uma visão diferente sobre a vida. Lembre-se, a história que queremos viver somos nós que escrevemos. Quer ter mais tempo de qualidade? Faça o acontecer!

Um grande abraço! E um feliz Natal!

(Texto de @Amilton.Jnior)