DEUSES MORALISTAS

Nem sempre os deuses tiveram o papel de fiscalizar as atitudes humanas. As primeiras expressões de transcendência eram dedicadas aos seres que representavam a Natureza. Na tradição mágica, a figura divina tinha duas faces: masculina e feminina. A deusa foi suprimida posteriormente em nome de uma religião monoteísta e patriarcal, para trazer identidade ao povo de Israel, um povo dividido que precisava ter sua própria expressão de fé. O deus judaico-cristão ganhou força no ocidente e se tornou a figura símbolo da fé ocidental.

Conforme eu disse acima, nem sempre a espiritualidade estava ligada a um deus ou deuses, ela era ampla, como uma conexão com tudo que é vivo. O homem era parte de deus e deus era o homem. No entanto, as civilizações foram se desenvolvendo, tornando-se modernas e “esclarecidas”. Porém, a religião sobreviveu à modernidade e se instalou na formação da cultura. Toda cultura tem a sua religião.

Cada cultura trouxe consigo suas questões éticas e morais. Para que as pessoas pudessem viver em harmonia, seria necessário a elas sacrificarem muito da sua individualidade e vontade em nome da sociedade. A moral se estabelece através dos costumes de determinada cultura. E assim nascem os deuses moralistas.

Os deuses moralistas surgem com o intuito de fiscalizar os indivíduos, de guiá-los pelo caminho “certo”.

Esses deuses são reflexos dos pais, e os pais são o reflexo da cultura. Quanto mais rígido é o lar de uma pessoa em desenvolvimento psíquico, mais rígido será os deuses para essa pessoa. A força desses deuses é tanta que eles influenciam os pensamentos e o modo de ver a “realidade”.

A verdade é que ninguém está livre da influência das divindades que a cultura criou, porque todos nós criamos nossos deuses. Um exemplo simplório e banal dessa minha explanação é o seguinte; imagine um ateu em que nada de sobrenatural acredita, mas deposita toda sua fé na ciência. Ele busca refúgio nos trabalhos e descobertas científicos. Ele, sem perceber, fez da ciência o seu deus. Pois a ciência guia sua forma de ver o mundo e de se entender como indivíduo.

Expressar a fé em algo e cultivar a espiritualidade não é um ponto negativo, porque nos dá um propósito e um sentido. E uma vida sem sentido, é uma vida vazia.

O problema é quando o deus de alguém se sobrepõe ao deus do outro. Porque dentro de um deus vem toda uma história de um povo e sua formação como sociedade.

A pergunta que fica é, qual o deus verdadeiro?

Para essa pergunta eu respondo: TODOS!

Porque todos eles representam a identidade de uma cultura.

Para ilustrar esse meu pensamento, vou aqui desvirtuar uma passagem bíblica (já de antemão, peço humildemente perdão para os cristãos por esse atrevimento, meu desejo não é ofender, mas meramente aludir).

Tal passagem se encontra no livro de gênesis 1:26:

“Então disse Deus: — Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.

Se trocarmos de lugar apenas os sujeitos dessa passagem, conseguiremos resumir satisfatoriamente minhas argumentações:

“Então disse o homem: — Façamos Deus à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.

Felipe Pereira dos Santos
Enviado por Felipe Pereira dos Santos em 21/12/2023
Código do texto: T7958936
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.