O planeta não precisa de nós
2023 está chegando ao fim e parece que ficará marcado em nós, dentre tantos motivos, pelas temperaturas que bateram recordes sequenciais! Também tivemos eventos climáticos catastróficos, como tempestades que além de alagarem, deixaram mortos e feridos. E mesmo assim parece que não despertamos para o fato de que a Natureza, a quem devemos nossa existência, começou sua revolta contra todo o desrespeito sofrido. E digo isso porque desde que eu era uma ingênua criança já ouvia falar a respeito de atitudes sustentáveis que visassem a proteção do planeta. Lembro até mesmo de ter plantado uma mudinha na escola como uma prática sobre o tema da importância de plantar árvores ao invés de derrubá-las. E eu já tenho vinte e cinco anos. Isso quer dizer que pelo menos há mais de vinte anos já somos alarmados quanto as consequências de nossas ações. No entanto, nada, absolutamente nada de concreto, foi realmente feito. O mais triste é que quando alguém se manifesta a respeito é chamado de “mimizento”. Concordo. Há muitas discussões banais recebendo uma atenção espantadora. Porém, clamar pela salvação da nossa casa, não é de forma alguma uma perda de tempo. Pelo contrário. Esse sim é um assunto capaz de mudar nossas vidas, alterar o rumo de nossas histórias, e não se famosa x traiu famoso y que fez a música z.
Não que devamos ser altamente sérios e centrados. Não que não possamos nos entreter com assuntos aleatórios que sejam capazes de nos aliviar, por um pouquinho apenas, das tantas opressões diárias com as quais convivemos em nossas vidas. Não é para sermos uns chatos que levam tudo tão a sério que até uma piada precisa ser detalhadamente explicada. Esse extremo também é perigoso. O problema surge quando damos tanta importância a temas desnecessários, que em nada interferem na nossa existência, enquanto um planeta ferve a cada dia – literalmente. Se usássemos a nossa capacidade de escrever comentários belamente argumentativos em defesa de nossos ídolos na internet, por exemplo, para convencer as pessoas quanto aos reais problemas que ameaçam a nossa espécie, estaríamos de fato dando um importante passo – dignamente chamado de O Grande Passo da Humanidade.
É uma pena que estejamos vivendo o pior de nossas ações sem despertarmos para a gravidade do que está acontecendo. Como eu já falei em algum momento por aqui, a humanidade é uma espécie curiosa porque, apesar de todo o seu potencial intelectivo, corre o risco de extinguir a si mesma. Não precisamos de um meteoro vindo do espaço para estilhaçar a nossa frágil existência. Parece que nos encarregamos de colocar um fim em nós mesmos. Relativizamos o que não pode ser relativizado. Tapamos os ouvidos para o que deveria ser escutado. E vivemos despreocupados como se o planeta precisasse de nós. O que é ingenuidade. Antes de aqui chegarmos a Terra já estava posta. Então o planeta não precisa de nós. Somos nós que precisamos do planeta. Mas se continuarmos como estamos, não sei se o planeta nos tolerará por aqui. Ele se recuperará sem a nossa presença.
(Texto de @Amilton_Jnior)