A VISÃO E O DESEJO
Ignora o deleite a que à vista se mostra?
Não acho
Fazemos isto até inconscientemente
Sendo, assim, natural
O que teria forma real e que, portanto, não fosse “fabricado” pela mente?
Talvez, nada
E vemos uma beleza a cada dia (ou mesmo, a tod'hora)
E a amamos (ainda que "realmente" nem exista, ja que a mente quem a criou)
Mas, fato que assim o fazemos até que ela se “disforme”
Qualquer coisa que "for" ... no tempo
Seja um rosto, uma cidade, uma construção, uma borboleta, um navio ...
Qualquer coisa, então
Olhar vivo que se repete no que vê
E se faz outra vez o mesmo ato... quanto, pois se deleita
E por quê?
Considerar-me-ia então escravo do que se aprazem meus olhos?
Ao que me pergunto
O que de form’alguma se desvia de minha visão?
Da primeira vez que se vê, talvez nada
Olhar mais d’uma vez [a mesma coisa]?
Dos olhos que perseguem e não fogem pelo qu'em tal grau contemplam?
Fato que o assim fazemos somente do qu’então [muito] apreciamos
Ao que do primeiro encontro dos olhos se percebe
E a partir da segunda vez somente visto que se quer e tanto deseja
Quando não se ama, eis que a vista foge e evita
Até porque antes lhe não escapa a vida que ali [de certa forma] existe
Contudo, depois dá o fora ... do qu'estava (ou, quem sabe, jamais houve!)
Já que naturalmente se afasta... até perder de vista
E, portanto na lembrança não fica... de quem um dia viu (e até mesmo gostou)
Morreu, então, o que outrora muito “vivo” estava!
E eis que parte sem deixar rastro
14 de dezembro de 2023
ILUSTRAÇÕES: IMAGENS PÚBLICAS, MAS POR MIM TRABALHADAS COM PROGRAMAS DE EDIÇÃO