O erro de esperar
Você já percebeu que vivemos em função do futuro? Ficamos esperando por uma vida que, na verdade, parece nunca chegar. Porque é sempre no amanhã que procuramos por algum motivo, por algum sentido, por algum propósito, ignorando o que temos agora, bem diante dos nossos olhos, na segurança e na firmeza de nossas mãos: a vida enquanto ela acontece. E esse comportamento de sempre esperar para viver nos acompanha desde nossos mais precoces anos. A escola nos prepara para o vestibular. A faculdade nos prepara para entrar no mercado de trabalho. E, por vezes, ao adentrarmos no tão famoso e temido mercado, deparamo-nos com um plano de carreira que, outra vez, nos faz olhar para o amanhã. Mas... E o hoje? O que é que estamos fazendo com o presente? Quais memórias teremos nos dias finais? Que história estamos realmente escrevendo? Esperar pode ser uma virtude. Mas, esperar para viver, é o mais terrível erro que podemos cometer.
“Enquanto se espera viver, não se vive” (Calor Drummond de Andrade)
Não que não devamos nos preparar para o futuro, como citei nos exemplos anteriores. Não que não devamos nos preparar para uma prova que poderá nos ajudar a decidir parte do nosso amanhã. É importante que façamos planos, como é importante que nos imaginemos como gostaríamos de estar daqui cinco anos na profissão que exercemos. Ter projetos é importante. Mas, mais importante que planos e projetos, muito mais importante que suposições e fantasias, é nos questionarmos se estamos vivendo a vida enquanto ela acontece ao invés de ficarmos esperando por uma vida que poderá ou não acontecer. Cinco anos se passarão, queiramos ou não, e conquistemos nossos sonhos ou não, eles passarão. E se a vida, daqui cinco anos, não estiver como idealizamos? Esse tempo será desperdiçado? Lamentado? Deixado de lado? Esse é o preço que pagamos pelo erro de esperar para começar a viver. Perdemos o tempo no qual estagnamos.
Tenha planos. E lute por eles. Mas não deixe de apreciar a vida como ela é agora, nesse momento, no atual contexto de sua existência. Alguns, percebendo que nada acontece como o esperado, acabam paralisados, sem saber o que fazer, desnorteados, arrancando os cabelos em busca de soluções para que seus rígidos traçados sejam religiosamente cumpridos e trilhados. Não sabem do que Naranjo um dia escreveu: “Se o presente não pode ser outra coisa senão o que é, os sábios entregar-se-lhe-ão”. Isso não é lindo e profundo? Há coisas que fogem do nosso controle e da nossa vontade. Como a realidade que estamos vivendo. Talvez não seja a das mais queridas. E talvez não tenha nada que possamos fazer para alterá-la imediatamente, a não ser trabalhar com aquilo que temos. E pode ser que nessa de nos entregarmos ao presente que nos está dado, descubramos que não precisamos de nenhum outro futuro que tanto fantasiamos, porque talvez tudo de que precisamos e necessitamos já nos está dado, no aqui e no agora, apenas não percebíamos por estarmos absortos em devaneios sobre ilusões que criamos em relação à vida.
(Texto de @Amilton.Jnior)