Palavras e sua dependência do viver

Palavras tem um vão, algum tipo de buraco, vazio ou insignificância inexplicável. 

 

   A origem da escrita, por exemplo, não poderia ter sido mais poetizado possível. Algo acontecia, algo era sentido ou visto, e aquilo precisaria de um nome para ser identificado, era um processo, acontecimento e denominação, denominávamos algo que acontecera. Mas hoje, isso entrou em contradição, em uma total absurda contradição. Pessoas denominam coisas inexistentes, escrevem sobre algo vindo de origem conspiratória.

   Escrevemos e lemos o vão, o vazio, o inexistente, talvez para poetizar tudo, mas a poesia não veio para satisfazer nossos anseios ou nossa necessidade de embelezar, mas ela veio para pôr significado nas mínimas coisas, e essas mínimas coisas não são decididas por meio de qualquer um, ela escolhe os olhos de alguém, caracteriza-os como sensíveis e a partir daquele momento a poesia entra em jogo, em conjunto com a vivência mas isso é assunto para ser comentado daqui a pouco.

   Essa deveria ser a regra da poesia, viver, sentir, pensar, refletir, posicionamento para uma atitude e por fim a poesia, por fim o conjunto de tudo isso expresso em vários conjuntos de letras, palavras, frases, orações, períodos, estrofes e como "gran finale" a poesia. 

 

OBS: Não me refiro a poesia como o texto estruturado em estrofes, mas uma maneira de enxergar e sentir a vida.

 

   Escrever deveria ser o grito ou o silêncio de uma alma, não uma expressão de algo inexistente. O que quero dizer afinal, ignorando meus escrúpulos, é que palavras só se tornam poesia com o sentir e o viver. Como provar isso? Até um "eu te amo" vira insignificante e raso se quem o disse não ama. É isso que quero mostrar, palavras não tem sentido, é em vão e mera futilidade se não estiver em conjunto com a vivência para testificar seu sentido gramatical.

   É claro que valido o desejo, aliás, os desejos são os planos da alma, porém isso entra num contexto mais profundo que sou incapaz de compreender ainda, talvez o dia que viver o "desejo" irei traduzir para a poesia, já que vivenciei, caso não, é hipocrisia minha tentar encaixá-la na poesia.

   Até o ser com mais imensa genialidade na literatura, com as mais belas e impactantes palavras, não poderiam sequer chegar aos pés de poder tocar VERDADEIRAMENTE o leitor com sua descrição do mesmo, o leitor só iria compreender com sua experiência própria.

   O peso de uma palavra se mede por meio das experiências do escritor para transmiti-las e depende da capacidade do leitor de traduzi-las para a linguagem da vida, assim vivenciando o sentido de cada palavra.