O aqui e o agora

“A era da ansiedade”. Você já deve ter ouvido essa expressão. Ela é dita como se o ser humano nunca tivesse experimentado ansiedade ao longo da sua história evolutiva. O que não seria verdadeiro dizer. Afinal, a ansiedade sempre esteve presente em nós. Aliás, ela é um mecanismo de sobrevivência. Funciona como um gatilho para o comportamento de luta ou fuga frente ao perigo. Ou ainda como mobilizadora para que enfrentemos a situação. Então a ansiedade, dentro da sua normalidade, não é um inimigo que precisamos combater. É natural sentir ansiedade diante de um grupo de pessoas quando estamos prestes a iniciar uma apresentação, por exemplo. O problema surge se, ao invés de usar esse nervosismo ao meu favor, eu simplesmente permitir que o pavor me domine e paralise.

Mas a ansiedade sobre a qual temos falado ultimamente não é necessariamente sobre aquela que em nós desperta quando estamos perante os desafios da vida. É sobre uma que não nos permite viver a vida de forma completa, honesta e verdadeira. É aquela que nos priva do aqui e do agora. É uma ansiedade que nos faz fixar o olhar para o futuro como se apenas nele a vida pudesse acontecer. É aquela que nos faz cobiçar o que não temos e o que ainda não vivemos. É aquela que nos faz desejar para que o tempo mais rápido e a distância entre onde estamos e onde queremos estar seja encurtada o quanto antes. É aquela que não nos permite sentir a vida acontecer. Porque ficamos extremamente preocupados e focados no amanhã. Pensamos no que irá acontecer e ignoramos o que está acontecendo. Preocupamo-nos ardente e amargamente com aquilo que está ausente e negligenciamos o que está presente. Queremos o amor de alguém, mas pouco fazemos do amor que já recebemos daqueles que nos cercam. Queremos um emprego melhor, mas pouco valorizamos aquele que, hoje, nos ajuda a viver. Queremos o amanhã, mas não vivemos o hoje. E esse futuro nunca chega, porque nunca permitimos que ele se torne presente.

Faça uma mudança em sua vida. Esteja conectado ao Agora, deixando o passado em seu lugar e respeitando o ritmo de aproximação do futuro. Permita-se a sentir o Aqui, ocupando-se mais do que está presente e menos do que está ausente*. Não quer dizer que precise deixar de sonhar, que não deva fazer novos planos, que não possa desejar voos mais altos. Não é disso que se trata. Mas antes de se ocupar com tantos anseios, que tal agradecer pelos lugares já conquistados? Que tal apreciar a vista que agora, aqui, seus olhos são capazes de contemplar? Não. Não deve ter apenas coisas ruins para serem vistas. Faça um esforço. Estreite os olhos se necessário. Concentre-se no lugar que está ocupando. Há coisas boas. E não se engane achando que no tempo que você tanto cobiça, nesse amanhã que parece demorar a chegar, tudo serão flores, porque não é assim que a vida funciona. “A vida não é violinos e rosas”, disse Perls. E eu acrescentaria que a vida, apesar de poder ser constituída por violinos e rosas, também o é por estrondos e tempestades. Hoje as coisas estão difíceis. Dificuldades que o amanhã também trará. E se não amadurecermos a nossa forma de olhar para a vida, passaremos toda a existência frustrados por um tempo que nunca chega – não chega porque não pode chegar: simplesmente não existe.

(Texto de @Amilton.Jnior)

(*) Trecho inspirado no livro “Gestalt-terapia: teoria, técnicas e aplicações”