Dos meus amores, a saudade

Há dias que eu não encontro palavras para falar do que se perdeu e do que restou. Houve perdas, houve vôos e há um vazio.

Confrontei minha covardia e amei mesmo sabendo que perderia. Permiti que o amor virasse saudade e aceitei o vazio que se fez.

Levantei as asas de alguns amores que, no fim, sempre voam sem mim. Permiti que esse amor virasse uma espécie de saudade que fico feliz em ter. Aceitei o turbilhão que se fez e aprendi a apreciar o amor que se foi.

Nesse ano, o tempo se fez em amor e luto. Amei sem esperança, amei com esperança. Esperei na minha fantasia uma realidade que não se fez, realizei algumas fantasias e transformei algumas realidades.

Sempre me questionei como amar com a certeza do fim. E eu amei. Só não sei explicar o "como".

Embora eu odeie plantas, o amor parece o ato de regar e regar e regar. As folhas, na melhor das hipóteses morrerão e poderão florescer em outras águas. Mas as vezes, é como se você regasse e regasse e regasse, e algo as cortasse pela raiz.

E resta um buraco que, em lágrimas, você escolhe ou não depositar outra semente. E regá-la e regá-la e regá-la, com a certeza de que aquela raiz poderá ser arrancada do solo a qualquer momento, junto a uma parte de você. E mesmo assim, você apenas rega.

Às vezes o buraco que se abre é tão grande, que apenas caio e me encolho naquilo que um dia foi minha raiz. E apenas rego, com todo o amor e a dor que restou em mim.

Perceba que falo de amores plurais.

Falo do amor que desabitou de qualquer realidade palpável. Eu ainda não sei como definir essa espécie de amor, cuja pessoa amada não existe mais. Tento confrontar meu ceticismo e pensar que ela ainda existe no vento, no silêncio, no escuro. Mas ela existe apenas no meu vazio.

Também falo do amor que desejou habitar outras realidades das quais não posso participar. Tento abraçar o turbilhão que se faz em mim e convertê-lo no ato, na transformação, na possibilidade e, quem sabe, na liberdade. Abraço esse amor que tanto cuidei, que tanto elevei e que partiu rumo à dúvida, às possibilidades e às incertezas.

Dos outros vários amores, falo da arte.

Falo das melodias que meus dedos ainda não dedilharam, da ciência que ainda não analisei, do discurso que ainda não professei.

Falo da fotografia do presente e da fotografia da saudade. Falo da poesia como falo da vida.

Falo do amor que restou, seja na minha realidade, seja na fantasia, seja na distância, seja apenas na memória. Seja na saudade.

De toda forma, materializo esses amores no ato, nas lágrimas, na melodia, na oralidade ou na poesia.

Nota: 28, 29 e 30/11/2023

maria paula da silva lima
Enviado por maria paula da silva lima em 30/11/2023
Reeditado em 30/11/2023
Código do texto: T7944147
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