Medo
Se passa mais um dia,
O sol se pôs, e não restou nada.
Nada.
Você desistiu de ser você mesmo, ser o melhor.
Morreu na praia.
E junto com a você,
A tal de esperança, que diziam por aí
que era a última que morreria.
Em casa,
Vejo nada além do fracasso em meu espelho.
A escória da sociedade em forma humana.
Arruinado, cabisbaixo.
O motivo de tanta desavença.
Algo que em prol de um mundo melhor, não deveria existir.
Você, ou melhor, eu.
Nada mais que um corpo vazio
e uma mente turbulenta
sem objetivo nenhum
onde caminhar todos os dias
fazendo a mesma rota,
se tornou algo normal.
Além disso,
retalhado pelas batalhas do cotidiano da cidade cinza,
onde não há cortes de espadas em sua pele
e sim, fragmentos de sua mente espalhados
no que ainda podemos chamar de cabeça.
Antes de você a perde-la,
Junto com esperança, e você.
A alma sem fé.
Sua ideia foi destruída.
Você foi destruído.
Arruinado.
E tudo que você treinou,
ou melhor,
dedicou quase uma vida,
está indo para o ralo junto com seus cabelos.
Acabou e
Você perdeu.
E perdeu feio.
Você queria dominar o mundo???
Deste jeito???
Inútil.
Levanta.
Saia daqui.
Mas antes que saia,
Preciso lhe dizer uma coisa,
Antes de você dormir.
Uma coisa. Eu ainda acredito em você.
Lembro de quando éramos pequenos.
Quantos sonhos.
Astronauta,
Jogador de futebol,
Cientista,
Presidente,
Um bilhão de sonhos, e me deparo comigo mesmo na minha frente.
Os seus olhos, secos.
Sem sentimento.
Seu reflexo,
Chora.
Fútil.
Egoísta.
Imundo.
Mas eu te entendo.
Perdoe-me.
Sim, eu estou contigo.
Ou melhor,
Eu estou comigo.
Desde o primeiro dia sei o que você mais queria.
Ser amado, ser querido, ser aceito.
E não vejo maldade em seus olhos.
Aqui,
Te olhando no meu espelho.
Não vejo a escuridão em seu coração.
Nada.
Magia, inspiração, força.
Nada.
Só enxergo uma coisa que lhe toma tudo.
E se chama medo.
Nota:
Eu escrevi este texto em 2010, tinha 15 anos.
Hoje, tenho 30. Eu sempre revisito este texto como uma eterna mensagem pra mim mesmo.
Uma mensagem da minha criança interior para meu futuro.
Uma mensagem do meu ego para meu alter ego.
Muito provavelmente um dia vou ter 45 anos e vou voltar aqui para ler este texto novamente, talvez pai de uma linda menina, e feliz.
Eu ainda vou me encontrar comigo mesmo e vou acertar essas contas.
Este é meu lembrete.