LIÇÃO DE VIDA

Com o passar dos anos aprendi a viver comigo, lidar com minhas dúvidas e o tumulto de sensações que inundam meu corpo ao final do dia.

Aprendi a silenciar as vozes alheias e prestar mais atenção nos sussurros permanentes do meu coração. Essa foi uma das lições mais difíceis.

Com o passar contínuo do tempo me olhei com mais admiração e me tratei com mais respeito, mesmo naqueles dias em que me olhava no espelho e nem me reconhecia. Pratiquei a paciência e a esperança prometida em um dia após o outro.

Não sei falar muito sobre mim, descrever o que sou é tarefa complicada demais, me atrevo a dizer que sou uma linha tênue entre o desespero e a calmaria, um equilíbrio insano que resulta em poesia.

Por muito tempo reconheci meu nome e desconheci minha essencia, fui o que desejavam que eu fosse e agi conforme as expectativas atribuídas. Vivi presa em um roteiro escrito por estranhos, refazendo todos os scripts numa tomada sem fim.

Esperei demais, perdi o ar fresco da manhã e me contentei com o calor do meio-dia, acho que não sonhei como deveria e não vivi a vida que merecia.

Com o tempo deixei de anular minha singularidade me importando cada vez menos de fazer parte de multidões, pois aprendi que minha própria companhia também basta.

Só decidi vestir a capa de mim mesma depois de passar infinitas noites me curando, secando lágrimas e reconstruindo sonhos, sozinha tive que me consolar e remendar os pedaços quebrados por alguém.

Me machuquei centena de vezes até aprender a segurar as lâminas pelo cabo. Aprender sobre o que machuca e detectar a dor foi uma árdua lição de casa.

Felizmente o passar dos anos trouxe a sabedoria e um jarro de vidro vertendo água límpida e fecunda. Saciei a sede e em cada gole crescia o desejo irreverente de assumir o controle, ser eu mesma, nua e despida de todas as amarras. Foi assim que me tornei autora da minha história e protagonista do meu enredo.

Já perdi a conta de quantos passos errados eu dei, mas olhar pra trás não é opção, a paisagem que está por vir é sempre mais atraente.

Ouso dizer, quem experimenta do cálice da liberdade nunca mais é cativo de ninguém.

Com o passar contingente das horas, meses e anos aprendemos que não há nada de errado em passar um sábado a noite na quietude do lar se a verdadeira festa acontece do lado de dentro, com uma taça nas mãos e um livro aberto já se pode sonhar e transceder limites da realidade.

Com a maturidade entende-se que não precisa ser dia de sol pra ser feliz, pois a verdadeira luz da felicidade irradia de nós mesmos. E acredite, só percebemos essa pequena chama quando atravessamos vales infinitos de escuridão.

A idade é um manto sagrado que envolve o corpo com elegância e adorna a alma com sabedoria.

Josih Romano
Enviado por Josih Romano em 17/11/2023
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