Revelação
Tem dias em que preciso chorar o cansaço dos meus 32 anos...
Ontem, ao me investigar no espelho, encontrei por acaso dois fios de cabelo branco que foram acolhidos por outros dois que eu descobri na semana passada. Vi um filme passar diante dos olhos, me questionando tudo o que conseguira fazer com a minha vida até essa parte do caminho. Me senti esgotada diante de tantos pensamentos. Entre expectativas frustradas de adolescência e lutas pela preservação da minha essência, dividida entre a busca contínua por liberdade e a mesma busca contínua por amor, movida pelo desejo de provar à mim mesma e aos outros com quem convivi e convivo o meu real valor!
Minutos depois, fui surpreendida por um ruído que parecia se tratar de um bater de asas, notei incrédula que um vaga-lume adentrou a janela do banheiro e se debatia desesperadamente no chão, me aproximei e percebi que sua asa estava quebrada, observei-o ali agonizante, testemunhei a sua impotência diante da morte e das suas dores... Me senti tão próxima e tão pequena diante daquele ser! Mas, me perguntava então como uma criatura que parecia estar morrendo continuava a piscar incessantemente espalhando luz?
O acontecimento atravessou a minha noite de tal forma que me vi pesquisando sobre a vida dos vaga-lumes, seus hábitos e sentindo profunda admiração por uma criatura da qual até então eu só conhecia realmente a luz, que em caminhadas ou estadias em lugares abertos geralmente me surpreendia em momentos aleatórios.
A luz daquele vaga-lume cruzou com as minhas sombras em seu último dia de vida, me senti honrada.