Os andares de baixo de uma Bela Casa
Depois que conheci os andares baixos (abaixo da Terra) desta casa que acompanha meus "Midnight Gospels", meu jeito de enxerga-la nunca mais será o mesmo. onde existia – escrito numa placa bem pequenininha – que turistas brancos de blusinha UV adoram comentar e fotografar; "Centro de Correções " , algo assim... Vulgo "PRISÃO". Deve ser bom viver com uma certa leveza que vem da certeza de que nenhum parente seu de nenhuma década, foi acorrentado e surrado até morrer. Os brancos, quando ricos, não tem motivo pra infelicidade, mas ainda assim... Eles a criam. Eu não sei o motivo.
(Como poderei dormir cedo algum dia na vida? Meus pensamentos disparam a noite e ninguém me atrapalha!)
No fundo eu compreendo todo mundo que "fugiu" da cidade grande e veio pra cá. Lá, muitas vezes nossas ideias mal são percebidas. Nossa arte e nossa angústia. Se você não ganhar dinheiro você não é ninguém e se você ganhar muito você não terá tempo de ser alguém. Ou então viverá desconfiado e com medo. Aqui o cara chega, faz um salgado ou um doce gostoso e vai vender na rua e ele É alguém. Aqui se formam grupos de música, samba, cantos. Coisa que se você fizer no bairro onde eu cresci, você é preso.
Aqui eu vendo livros, eu escrevo livros e lá eu sou um desempregado. A figura do desempregado numa cidade grande é de um homem que se sente culpado por existir e consumir as energias do contexto local DE GRAÇA enquanto a maioria paga para existir e coexistir na cidade. É um homem invisível. Sempre em filas e entrevistas.
Aqui eu vendo livros, eu escrevo livros...
Ontem eu disse prum amigo meu: "Sabe qual é o meu apelido aqui em Lençóis?! Henrique.".