Viva Poeta
Escrevo, como se não escrevesse mais, só por pura responsabilidade de escrever. Vejo a janela lá fora e rubro pensamentos que deveria pôr no papel de uma folha clara, quase transparente que é minha alma. Se digo que já não escrevo, minto! Minto por ter que contar a mentira a mim mesmo, para não dizer que Afrodite me abandonou, que a Vênus romana jamais me visitará novamente, que Freya não deu seus suspiros de primavera, somente por eu ser um homem comum. Não, não creio em mim! É o que diria Álvaro Campos, se ainda fosse vivo, tão horas fugazes de personalidade foi um tal Fernando, que me esqueço quem é ele, assim como esqueço a mim mesmo. Vivo amores à pequena liberdade que me prende ao terreno humano, sem ao menos saber pra onde irei ou para onde vamos. Tenha sentido que todas as perguntas voltam novamente e que sinto falta, do pequeno filósofo que há em mim. Vontade visceral de escrever o que penso sem pensar no que escrever. Sinto a liberdade como pena voando sobre os céus e céus caindo sobre homens. A caneta me faz voar para lembrar-me que sou celeste e que não sou aquele que tinha sonhos pequenos. Não há em mim sonhos que não sejam apagados, frases que não sejam faladas e o silêncio que a tudo toca, toca a mim também. Não vesti o dominó que era errado, fui eu vestido por ele, sem ao menos saber o propósito. Agora sou eu controlado pelo dominó que por todos a minha volta foi construído. E eu, que menino sonhador de cidade do interior, tenho pouco a fazer a não ser sonhar pra viver. Me satisfaria se apenas fizesse poesia, vivesse de harmonia e entregasse alegria. Sonhos tão pequenos, belos e serenos, que aos poucos são plenos viver certos momentos. Só que a vida é batalha feroz que o devorador algoz não tem pena de nós. Vive e canta, se cai se levanta na batalha e na bonança vive por nós. Que não deixa sonhos morrer, se põe a debater e aos poucos conquista o som de sua voz. Interna presente, desperta consciente, menino carente, sejas veloz. Que a vida é corrente, sempre pra frente e sai na nascente as águas da foz. Luta pelo sonho, mesmo que estranho, escuta tua voz. Seja preciso, poeta amigo, mesmo feriado, traz contigo o sorriso. Não desista do sonho, poeta estranho se perco ou se ganho, não sabe quem ganha, tamanha façanha, poeta viva por nós!