CARTA AO VENTO
Meu querido amigo,
Esta é a última carta que escrevo,
A última lágrima que derramo.
Hoje, sonhei contigo mais uma vez,
Mas, desta vez, o sonho foi diferente:
Te vi brincar como sol de outono,
Abraçando tua filha como um raio de luz.
E eu, como sombra furtiva,
Deixei cair um cartão, meu nome ao vento,
Como folha que se desprende da árvore...
Ao notares minha ausência,
Correste atrás de uma sombra que já se foi,
Escolheste teu caminho na bifurcação,
E o cartão, com meu nome gravado,
Era meu coração, perdido na escuridão.
Ficou para trás, num labirinto sem fim,
Pois tu não conseguiste encontrar a saída,
Ele se desfez no tempo, como areia ao vento.
Lamento dizer, mas essa amizade,
Que foi nosso porto seguro,
Que tantas tempestades acalmou,
Agora é naufrágio, sem resgate.
E eu, quem sou sem esse farol?
Sem essa amizade que era meu norte,
Me sinto à deriva, sem rumo,
Como navio sem bússola,
Em um mar de solidão.
Tudo isso é maré que afunda o peito!
Ao ler teus textos,
Vejo que essa travessia foi só minha,
E a dor se espalha como tempestade.
Por isso, desisto!
Desisto de amar um horizonte distante,
De seguir uma estrela que só eu via,
Desisto!
Apaguei teu nome como se apaga um sonho,
Nossas lembranças, um eco na brisa,
Nossa amizade, uma onda que se desfaz na areia...
Por fim, apaguei o que havia de mais belo em mim:
Meu coração, estrela que se apagou.
Não há mais por que evitar,
A maré já levou tudo.
Quando me levantar desta cadeira,
Nossa história será espuma no mar.
E, de fato, "o sol brilha lá fora"!
Os ventos do Norte batem em minha janela,
Como mensageiros da paz,
E eu não vou fechá-la!
Essa janela se abriu como porta para um novo horizonte,
Trazendo-me a brisa de um novo amanhecer.
Adeus, meu querido amigo!
Que a vida nos leve em direções opostas,
Onde possamos encontrar novas marés,
E que o silêncio entre nós se torne calmaria,
Transformando o adeus em lembrança serena.