FINADOS
Aqui a saudade fincou raízes e cresceu numa fúria impetuosa de existir.
Aqui o silêncio é permanente e interrompido apenas pelo som dos murmúrios das pessoas aflitas e chorosas.
Aqui o vento sopra numa marcha triste e longínqua.
Todos os que passam por mim trazem a tristeza estampada nas faces molhadas.
Todo riso só se encontra nas lembranças e memórias evocadas.
Aqui a dor é ínfima e tão cortante que fere a alma.
Mesmo sob o céu azul é tão triste e monótono quanto um dia nublado.
Todas as casas são ornamentadas de flores e datas. Só há uma lápide para traduzir uma vida inteira.
Aqui se deixa todo orgulho e vaidade e também alguns sonhos esparramados nas cascatas do tempo.
Aqui o relógio não anda e todo dia é sempre o mesmo dia. Uma fenda entre a eternidade e o pior dos mundos.
Pois aqui a vida se dissipa e tudo se resume em um retrato preto e branco adornado de letras douradas.
Aqui é o lugar onde venho visitar quem não mora mais comigo.
Pois o amor da minha vida costumava ser chamada de vovó.