A noite abraça a tristura
Me deleito das noites serenas, pois bem sei que em momentos de turbulência, é na calmaria que meus pensamentos tencionam. Mas lá fora, ouve-se pingos que intensificam, de alguma maneira, um hiato que nunca se preenche, e todo instante é como se um "Adeus" soprasse no pé do ouvido. A janela mal arquitetada não pode ficar aberta, pois o vento sempre trás os pingos para dentro, mas hoje não havia problema - pois os resquícios que caem sobre meu rosto acalentam a intempérie em minha mente. Direciono, então, meus pensamentos, pintando-os com otimismo, buscando lembranças onde as cores vivas se sobressaem - o olhar submerso no azul do mar, os céus rosados do alvorecer, o verde da grama umedecida pela garoa da alvorada e o amarelo outonal da cidade, acompanhada do frescor do vento. Não existe inimigo maior do que o próprio boicote da consciência, e esta luta trava uma batalha de êxito quase inatingível, pois nem todos que emergem na escuridão conseguem escapar de lá sozinhos. A solidão parece gostar do manto que a noite a veste, mas é estranho a maneira com que ela geralmente enfraquece com a chegada dos primeiros raios de sol da aurora.