O livro da vida

Todos, sem exceção, temos à nossa disposição o grandioso Livro da Vida. Um livro apenas nosso. Oferecido exclusivamente a nós. Cada um tem o seu. E pode escrever nele a história que bem quiser. Uns o usarão de forma sábia e, apesar dos capítulos difíceis e conflituosos, conseguirão escrever passagens belas e inspiradoras. Outros, contudo, distraídos pelo fluir das coisas efêmeras, não conseguirão escrever algo que realmente gostariam de viver, isso porque nem ao menos conseguem saber o que desejam para as suas vidas: não conseguem entrar em contato com os seus desejos e, assim, estão impossibilitados de reconhecer suas necessidades. Fato é que todos temos em nossas mãos o poder de compor uma história: nossas escolhas determinarão se ela será prazerosa ou insatisfatória.

E também é fato que nesse livro viveremos muitos momentos. Como aludi anteriormente, alguns capítulos serão incríveis, memoráveis, cheios de razões para que sorrisos sejam colhidos dos mais serenos rostos. Porém, outros serão tremendamente dolorosos, inquietantes, com razões para que dos olhos mais brilhantes corram lágrimas de lamento. O problema surge quando nos estagnamos nesses capítulos ruins sem entender que é também por eles que a nossa história continua e ganha significado. Faça um breve exercício. Se possível, resuma a sua vida em sua mente. Observe onde você está agora, as conquistas que teve, aquilo que lhe foi entregue conforme o tempo passava. Mesmo que tenham sido coisas simples. E mesmo que você ainda não esteja onde gostaria de estar nem tenha o que realmente gostaria de possuir. Agora se questione sobre as experiências que o impulsionaram, que o trouxeram até aqui. Com certeza momentos agradáveis existiram, mas as dificuldades também se fizeram presentes e seu caminho não teria sido trilhado pulando os obstáculos, ignorando-os, deixando de enfrentá-los.

Então, sim, cada fase de nossas histórias serve a algum propósito que talvez, no momento, não sejamos capazes de compreender, mas que em um futuro próximo, ou até distante, quando formos capazes de olhar para a nossa vida através de uma perspectiva ampliada, como conversamos recentemente, será devidamente justificada e conectada a quem nos tornamos.

“Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto, é como se abrisse o mesmo livro numa página nova” (Mário Quintana)

O que nos esquecemos é que a cada dia viramos uma discreta página. E por nos esquecermos disso, repetimos os mesmos parágrafos de páginas anteriores, ignorando que sempre é possível recomeçar e que não precisamos nos condenar a uma prisão aos dolorosos eventos passados. Eles foram uma parte de nossa história. Jamais a completude. E por não entendermos que a cada dia nos é oferecida uma nova oportunidade para que coisas novas sejam escritas em nosso livro, viveremos nesse marasmo de uma vida repetitiva, neurótica, que nos assusta sempre pelos mesmos motivos. Ao contrário, se formos capazes de contemplar cada amanhecer como um virar de página em nossas vidas, refletiremos sobre os erros passados, as escolhas equivocadas, evitaremos os caminhos duvidosos e faremos o possível para que novos e mais certeiros trilhos sejam criados para que a nossa viagem prossiga, avance e o nosso destino seja aproximado: o porto da melhor história que pudemos escrever, da melhor vida que fomos capazes de verdadeiramente viver!

(Texto de @Amilton.Jnior)