EU NÃO ESTUDEI DIREITO
Não, não eu estudei direito, e por isso não sou a pessoa mais indicada para falar sobre algo que não domino.
Não, eu não degustei o suficiente da prova que fui submetido, para manifestar-me a respeito das especiarias que compõe as iguarias do maná quando atravessava o deserto, e por estar sedento, uma, e tão somente uma única só vez, não me daria a competência para discursar pelo sabor doce das secreções das árvores, e do líquen levado pelos ventos de nuvens de gafanhotos que me alimentou no instante de embriaguez, mesmo depois de ter bebido o vinho da ira de Deus.
Eu nunca estudei direito, nunca me debrucei sobre as escrituras que poderiam me salvar, porque ali, as histórias contadas, levavam-me a crer que eram cosméticos que ilustravam um passado longínquo, onde não me enxergo, quando hoje vestido de outros mantos, tento disfarçar o velho fariseu.
O direito e o errado são caminhos que mormente, podem levar-nos a estradas antagônicas, mas que, toda via, olha ela de novo, por atalhos distintos, faz nos chegar mais cedo ou mais tarde, ao mesmo fim.
O estado do direito existe, porque é crido que haja um Deus justo, mesmo ainda não se tendo nenhum Salomão para dirigir esse estado de coisas.
Tenho estado muito confuso nos últimos tempos, quando percebo o estado febril que me acompanha. O termômetro que poderia ser o balizador das ansiedades que me atormentam, penso que mudou de cor, pois as sonatas não combinam bem com o estribilho. EU NÃO ESTUDEI DIREITO!
NÃO, não estudei, mas como todo aluno repetente, me candidato às aulas de recuperação, pois para perguntas em que na minha lógica sempre tirei 10, só consegui o revés. Agora maturo, porém ainda mais matuto, quando pensei que sabia todas as respostas, os caras lá de cima mudaram o sentido das questões, e aí as bussolas que eu trazia como cola, perderam o sentido, e o que senti, foi a vontade de rasgar a prova.
Eu nunca estudei direito, mas me arvoro como rábula em causa própria, a responder pelas causas que insisto em querer entender pra crer.
Depois que fui flagrado com a cola, pensei que seria expulso da escola, pois as métricas e as fórmulas matemáticas estavam tão bem escritas na memória, que nem o professor de gramática poderia decifrar.
Para o meu espanto, fui levado para um canto e como penitência, ao invés de ser execrado com destino ao inferno, me deram um novo terno, e disseram-me que as próximas provas teriam as respostas das perguntas que eu propusesse. Os atalhos, os macetes, esses determinariam o tempo de chegada em mim.
EU juro que direito não estudei,
e por isso acho que perco o sono;
Ah, tem algo que por ora, assim eu pensei...
Descobri que dessa escola, eu sou filho do dono.
Caramba, mas depois disso, agora tenho total certeza que nada sei.
PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS) 29/10/23