A vida da gente (Parte 2)
As histórias acabam. Sempre acabam. Tal como ocorre na vida, os filmes chegam ao fim, as novelas têm seus últimos capítulos exibidos, as séries apresentem seus episódios finais e os livros alcançam a última página. As experiências chegam ao fim. Tudo acaba. Termina. Tem o seu encerramento. E isso, em muitos casos, é doloroso. Parece até que não faz sentido. Pessoas que amamos vão embora, situações que estimamos são finalizadas, nós mesmos um dia partiremos dessa oportunidade que tanto apreciamos. Então parece que nada faz sentido. Pelo simples fato de acabar. Mas é exatamente por acabar, por ter uma conclusão, um fechamento, que as coisas realmente fazem sentido. É por existir um fim que nos impulsionamos, todos os dias, a fazer o melhor que nos for possível em prol de uma vida satisfatoriamente vivida.
This Is Us teve o seu encerramento. Confesso que eu adoraria se a série tivesse uma eterna continuação. A história é perfeita, os personagens são incríveis e o texto é primoroso. Mas tudo acaba. Mesmo as mais perfeitas das experiências, as mais agradáveis das vivências. Tudo chega ao fim. E quando finaliza podemos ver o sentido, as conexões, as ligações. É quanto finaliza que podemos perceber o quanto aquilo nos transformou, agregou em nossos ser e nos fez, de alguma forma, pessoas melhores.
No penúltimo episódio da série, em um lindo diálogo com William, Rebecca Pearson lamenta o final ser triste. Então o sábio homem lhe respondeu: “Da forma que vejo, se algo te deixa triste quando termina, deve ter sido maravilhoso enquanto estava acontecendo”. Esse foi um dos ensinamentos mais lindos que a série proporcionou desde o seu início. Algo que nos faz pensar sobre a nossa vida e, ao invés de apenas nos lamentarmos pelos encerramentos, sermos agradecidos quando os finais doerem em nós. Isso porque se referem a coisas prazerosas, a experiências enriquecedoras, a circunstâncias que, de alguma maneira, nos maravilharam enquanto aconteciam. É claro que nos lamentaremos. Até choraremos. Porque não queremos que acabe. Mas ao invés de simplesmente nos lamentarmos, que sejamos gratos por termos tido a nobre oportunidade de sermos arrebatados pela dádiva da existência!
William continua:
“Eu sempre achei um pouco preguiçoso pensar que o mundo é triste porque tanto dele é, porque tudo termina, tudo morre. Mas se der um passo... se der um passo atrás e olhar para o quadro completo, se tiver coragem suficiente para se permitir a dádiva de uma perspectiva realmente ampliada, vai ver que o final não é triste, Rebecca. É só o começo da próxima coisa, uma coisa incrivelmente bonita”
Não tema experienciar a vida porque ela acaba, é imprevisível e nem sempre acontece como esperamos. Ao contrário. Tenha coragem para se permitir a ser impressionado pelos mistérios da existência. Não dê tanto foco aos seus desejos, embora eles sejam importantes. Cultive em seu coração um certo espaço para que possa haver, por parte da vida, um belo preenchimento. Coisas lindas podem estar acontecendo, coisas lindas ainda podem acontecer, só precisamos ampliar os nossos horizontes, permitir-nos a virar o pescoço para que novas paisagens sejam contempladas! E quando essa história terminar, não tenha medo, nem se paralise. Precisou terminar. Precisou terminar para que algo, em algum momento, em algum lugar, possa começar e o encantamento da vida seja reiniciado. Esse livro se fecha. Mas não significa que nenhum outro livro possa ser aberto. Pelo contrário. Essa história termina para que outra, talvez até mais impressionante, possa ser, enfim, iniciada. Assim é a vida da gente. Um espiral de dores e alívios, sorrisos e lágrimas, inícios e términos, começos e recomeços!
(Texto de @Amilton.Jnior)