A vida da gente (Parte 1)
Sempre fui fascinado por histórias. O mundo dos livros, por exemplo, sempre foi capaz de me proporcionar as mais belas e encantadoras viagens mesmo que eu estivesse debaixo do cobertor no quentinho da minha cama. As histórias têm esse poder. Sejam elas escritas, assistidas ou transmitidas oralmente na presença de uma fogueira crepitante. As histórias retratam as nossas vidas. Podemos nos encontrar nos personagens. E, com isso, podemos nos encontrar em nós mesmos. Podemos refletir. E podemos ver a vida a partir de ângulos diferentes, novos, capazes de nos proporcionar significativas mudanças na maneira de viver. Seja nos livros, em filmes, séries ou novelas, histórias, em muitos casos, fazem-nos pensar na vida da gente.
Uma dessas histórias é This Is Us. Série maravilhosa! Do começo ao fim. Instigante e intrigante. Sem um episódio sequer que nos faça bocejar entediados. É claro que essa é uma visão minha, mas acredito que muitas pessoas também compartilhem da mesma impressão. Isso porque é uma daquelas histórias que busca representar a vida cotidiana de forma honesta, ao mesmo tempo em que suave. Confronta-nos com as dores do existir ao mesmo tempo que nos faz perceber que, em meio a elas, há refrigérios acontecendo. Uma história complexamente simples, tal como a vida, essa experiência misteriosa que temos vivido desde que nascemos. Se você ainda não conhece a obra, sugiro fortemente que a assista de mente aberta, coração disponível e com vontade por aprender sobre a vida acompanhando aquelas personagens que, de alguma forma, confrontam-nos com aspectos de nós mesmos.
Terminei de assistir não faz muito tempo. E no último episódio fui levado a uma emocionante reflexão quando Jack Pearson, ensinando os filhos pré-adolescentes a se barbearem, começou a falar sobre o quanto desperdiçamos aspectos sutis do momento presente porque estamos sempre tão voltados ao futuro com suas idealizações, algo do qual nos arrependemos, pois parece que passamos a vida nos lamentando pelas pequenas coisas que tivemos a oportunidade de viver, mas que não sentimos de verdade tamanho o automatismo com o qual temos vivido as nossas histórias.
Pensamento bonito, sutilmente impactante, extremamente verdadeiro! Isso porque desperdiçamos as coisas simples por estarmos sempre esperando coisas complexas. Mas quem disse que para a vida valer a pena precisamos sempre estar envolvidos em uma montanha-russa de descobertas e emoções? Um dia sentiremos falta de termos nosso pai nos ensinando a fazer a barba. Um dia lágrimas saltarão de nossos olhos quando nos lembrarmos de nossa mãe nos ensinando a pentear os cabelos com tanto carinho e devoção. Um dia nosso coração se apertará, pois, ao passarmos em frente à casa de nossos avós, não mais os veremos sentados na varanda com um sorriso no rosto acenando em nossa direção. Um dia nossa alma se abaterá porque acordaremos com os raios de sol atravessando a janela e tocando nosso rosto, viraremos para o lado e veremos que nossa cama, embora ainda preservado o contorno do corpo daquele com o qual dividimos os últimos anos de nossas vidas, estará vazia. Coisas simples. Coisas do cotidiano. Coisas que se repetem quase a todo instante. Mas que não valorizamos como deveríamos por sempre esperarmos coisas grandiosas. Coisas que talvez nunca aconteçam. Coisas que, mesmo que aconteçam, talvez não proporcionem todas as sensações que acreditávamos que seriam proporcionadas. Coisas superestimadas. Pois, a verdadeira grandiosidade está naquilo que nos faz sentir o outro e sermos sentidos por ele.
Conecte-se com a sua vida. Esteja presente naquela tarde no parque. Naquela noite no carrinho de lanche. Naquela manhã enquanto seu pai lhe prepara o leite quente. Naquela reunião de escola quando a turma de seu filho preparou uma surpresa aos pais. Naquele encontro inusitado com um amigo especial. Naquele jantar de Natal. Naquele almoço de domingo com os avós prestativos. Naquela caminhada sem rumo tendo apenas a sua companhia. Não espere demais pelo depois. Nem idealize tanto o seu futuro. Há coisas grandes acontecendo agora. Tenha sabedoria e coragem para vivê-las enquanto estiverem acontecendo. Porque chegará o dia que você as desejará ardentemente. Se existirem memórias, elas confortarão a saudade. Se não, restará o arrependimento...
(Texto de @Amilton.Jnior)